![]() CENTROPRAQUEM? O IAB.DF acompanha com atenção e está articulado com diversas entidades da sociedade civil e parlamentares, ações contra o projeto de lei 2.260/2021, que tramita na Câmara Legislativa do DF, e os impactos que ele traz para quem usa a rodoviária de Brasília e suas adjacências. Da forma como estão sendo construídas, às concessões pretendidas pelo GDF podem transformar o DF em um território ainda mais desigual, fomentando processos de gentrificação e restrição do uso e acesso a espaços públicos. Boas propostas, como a Zona Verde, que estabelece uma tarifa para estacionamento em áreas públicas e é adotado em cidades no Brasil e no mundo, parece ser deturpadas para beneficiar grandes empresários, já que a renda oriunda dos pagamentos irá para os concessionários e não para o poder público investir em transporte público ou mobilidade ativa, por exemplo. Das áreas mais centrais da metrópole à orla do Lago Paranoá, tudo parece ser foco da estratégia de tirar do público para dar vantagens à iniciativa privada. Acompanhe nossas redes para saber das próximas ações sobre o tema. Arquitectura y feminismo - palestras e exposição O mês de julho é marcado por duas datas de grande relevância para a construção e debate sobre equidade, inclusão e visibilidade das mulheres no campo da arquitetura e urbanismo: o dia 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, e o dia 31 de julho, Dia Nacional da Arquiteta e Urbanista. Neste ano, a Coletiva Arquitetas (in)Visíveis, com o IAB.DF e a Vice-Presidência Nacional de Ações Afirmativas do IAB, em colaboração com o Instituto Cervantes montará a Exposição Arquitetura e Feminismo: sem começo nem fim, em Brasília, inaugurada no dia 19 no Espaço Lúcio Costa, na Praça dos Três Poderes. A exposição aborda o cotidiano dos espaços arquitetônicos, centralizando o ponto de vista das pessoas que tradicionalmente têm sido ignoradas e propondo alternativas mais igualitárias. No dia seguinte, no Museu Nacional, houve uma mesa de debate sobre como habitar os espaços de forma mais sustentável, empática e justa, a partir da perspectiva feminista na arquitetura e urbanismo. Com falas extremamente ricas, contou com a participação de Semiramis González, curadora da exposição, Martha Fonseca Salinas, Collectiu Punt 6, Maribel Aliaga, observatório amar.é.linha, e Claudia Sales, conselheira federal do CAU pelo Ceará. Leia mais em: https://www.iabdf.org.br/noticias/july-25th-2023 ![]() Clima e Cidades O Presidente do IAB.DF e Diretor Nacional de Cultura do IAB esteve presente no I Seminário Emergência Climática e Cidades. Organizado pelo IAB.SP, o evento buscou engajar arquitetos urbanistas e os setores público, privado, não governamental e acadêmico no fortalecimento da agenda climática urbana brasileira, por meio de trocas de experiências sobre mitigação e adaptação aos efeitos das mudanças do clima no meio urbano. Depois de décadas de alertas da comunidade científica, hoje já sentimos os impactos do aumento das temperaturas. Tempestades, ondas de calor e enchentes estão mais intensas e frequentes e causam doenças, mortes e remoções nas cidades. O racismo ambiental se aprofunda, já que tais eventos atingem desproporcionalmente a população preta e periférica. Nesse novo contexto, a pauta ambiental precisa tomar forma na gestão urbana e no pensamento arquitetônico, em desafios como mobilidade, águas, redução de emissões da construção e adaptação do meio construído, em especial dos assentamentos informais. Parte da solução para esses desafios está no resgate da natureza como elemento da infraestrutura urbana, incorporando a função social e ecológica do solo e das águas em uma nova forma de pensar o ambiente construído. Em sua fala, o presidente Luiz Eduardo Sarmento ressaltou que: “É sintomático estarmos reunidos aqui tratando desse assunto quando acaba de terminar o julho mais quente do planeta. Este dado demonstra que encarar a questão climática é tarefa absolutamente emergencial. Nós, arquitetos e urbanistas, tivemos nossas responsabilidades ampliadas: não basta buscarmos desenhar boas cidades, desenvolver arquitetura de qualidade e preservar o patrimônio cultural edificado. Todas essas tarefas, por si só complexas, ganham uma nova camada de dificuldade. Precisaremos enfrentar um mundo em rápida e violenta mudança ambiental. Naturalmente, que em um mundo desigual, as pessoas mais pobres, como sempre, são as mais impactadas. Uma enorme parcela do povo brasileiro vive em condições insalubres, em moradias inadequadas, como as típicas residências autoconstruídas, com pés direitos baixíssimos, coberturas de telhas de fibrocimento, e poucas aberturas. Se, nas condições atuais, já não são confortáveis, as condições de vida nesses espaços ficarão ainda pior. Nesse sentido, ampliarmos as ações de Athis, levando em conta as mudanças do clima se faz urgente e necessário.É tarefa nossa trabalhar para melhorar a vida da maior parte da população brasileira, que é pobre e sofrida, e está ficando ainda pior. " ![]() Comitê de Gestão Participativa (CGP) para renovação do PDOT O Instituto, como membro do CGP, participa ativamente das reuniões de definição dos moldes de participação social para a renovação do Plano Diretor de Ordenamento Territorial do DF (PDOT). O processo, tradiamente iniciado em 2019 pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitacional do DF (SEDUH), parou durante a pandemia e foi retomado junto às atividades presenciais com oficinas participativas organizadas em cada uma das 7 Unidades de Planejamento do DF (UPT). O CGP não aceitou esse formato em que a abrangência territorial não condiz com a participação efetiva da população do DF. Acatando a crítica, a nova equipe de gestão na SEDUH implementou um calendário de oficinas participativas por Região Administrativa e por temáticas. Iniciado em abril de 2023, o calendário em andamento conta com mais de 54 oficinas participativas previstas para acontecer até dezembro. É previsto concluir a fase de diagnóstico com uma apresentação pública em audiência pública na Câmara Legislativa (CLDF), mas o CGP já adiantou que um encontro não será suficiente para tal. O CGP também segue lamentando a falta de compromisso por parte do Governo com a comunicação para que haja de fato uma participação mais ampla. Somente agora no final de agosto foi liberado uma verba para contratação de carro de som e outros meios de comunicação. É lamentável que o GDF siga ignorando a participação social no PDOT enquanto poderia ter cartazes e anúncios nos ônibus, no jornal DFTV, na rádio Cultura entre outros meios. Ainda assim, é claro que, enquanto a equipe técnica da SEDUH tem muita vontade que o processo participativo faça parte da renovação do PDOT, a linha do Governo atual do DF segue outros interesses. Em 2024 é previsto iniciar a fase seguinte de prognóstico cuja metodologia foi apresentada pela equipe técnica da SEDUH na última reunião ordinária do CGP, quarta dia 30 de agosto. Essa metodologia está sendo avaliada pelos membros do CGP. Por fim, uma reunião extraordinária dia 13 de setembro discutiu a implementação de Comissões populares de acompanhamento dos resultados da participação social por RA e por segmentos. Os objetivos da criação das comissões, citando o professor Benny Schvarsberg (membro CGP pelo coletivo Andar a pé), são de descentralizar a responsabilidade da inclusão da participação no processo de renovação do PDOT, identificar interlocutores da sociedade civil, sistematizar as propostas e sua devolução à sociedade como um todo e, por fim, acompanhar e mobilizar para o processo em trâmite do PLC na CLDF, formando lobbies fortes dentro da sociedade civil. Observatório da Política Urbana A Comissão de Política Urbana do IAB-DF (CPU) tem acompanhado o trâmite de aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLC) de Parcelamento do Solo Urbano. Apesar de ter votado contra a proposta no Conselho de Planejamento Territorial do Distrito Federal – Conplan, PLC foi aprovado e enviado à Câmara Legislativa. Com isso, o Instituto, em parceira com o movimento Andar a Pé, ingressou com uma representação junto ao Ministério Público, denunciando as irregularidades no rito de elaboração do projeto e de sua apresentação e votação no Conplan. Ao mesmo tempo, realizou um ciclo de encontros com Deputados Distritais e Assessores da Câmara Legislativa, apresentando propostas de emenda ao texto enviado pelo governo, com o intuito de alinhar o instrumento ao interesse público e à função social da propriedade. Atualmente, o PLC se encontra em análise na Comissão de Assuntos Fundiários da Câmara. IAB Participa! Parcerias e co-organização de eventos Virada da habitação 2023 evento realizado pela rede Colabora Habitat da ONU no CAU.DF e co-organizada pelo coletivo Panã (DF), pelo grupo Morada de Luz (Ceub.DF), pelo grupo Ideias Urbanas (Goiás), pelo CRESS.DF, pelo coletivo MOB (DF), pela Defensoria Pública do DF e pelo IAB.DF. IX Seminário de Investigação, Ensino e Difusão do LABORATÓRIO COLABORATIVO: Dinâmicas Urbanas, Património, Artes Esta edição do Seminário ocorreu em Brasília, em formato híbrido, nos dias 31 de agosto e 1 de setembro. O evento reuniu alunos, pesquisadores e interessados em geral para uma discussão de pesquisas em andamento ou recém-concluídas no campo da Arquitetura e Urbanismo, das Artes e do Patrimônio. O evento internacional foi promovido pelo Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território do ISCTE (Lisboa) e o Programa de pós-graduação da FAU-UnB, com apoio do CAU-DF, IAB-DF e FNA e em parceria com instituições de ensino e cultura do Brasil, Portugal e Espanha. Confira os vídeos Audiências públicas Representantes do IAB.DF estiveram presentes, como convidados, em duas audiências públicas realizadas recentemente. “Por um DF sem despejo” e “Participação social no PDOT: o DF que queremos”, ambas organizadas pelo Gabinete 24 do deputado distrital Fábio Felix trataram de temas pertinentes à atuação do IAB. O IAB.DF participou também de diversas reuniões, a convite, com deputados distritais para tratar de temas relevantes para o território do DF e suas cidades. ![]() Formação O IAB.DF marcou presença na formatura dos alunos do curso de Arquitetura e Urbanistmo da FAU UnB, ocorrida no Campus Darcy Ribeiro no dia 30 de agosto. O presidente do IAB fez uma saudação às/aos agora colegas de profissão, destacando os desafios que a categoria precisa enfrentar em busca de um mundo justo, com espaços construídos ambientalmente adequados e sustentáveis frente à emergência climática e desigualdades sociais extremas. Por fim, lembrou que o IAB está sempre de portas abertas e que os novos arquitetos e urbanistas são muito bem vindos para somar na construção coletiva de nossa entidade e suas bandeiras. ![]() foto: Correio Braziliense IAB DF na Mídia! Conjunto Fazendinha, na Vila Planalto, está sob risco de desabar Tombado pelo patrimônio histórico do DF, o complexo, da época da construção de Brasília, precisa urgente de restauração. Caso contrário, pode não resistir à estação chuvosa. Governos são cobrados há 10 anos para apresentar projeto de recuperação A diretora Cultural e de Divulgação do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-DF), Cecília Almeida, frisou que o complexo é o último remanescente edificado onde é possível observar como viviam os funcionários pioneiros em Brasília. "Além da importância de caráter histórico e social, o Conjunto Fazendinha preserva técnicas construtivas do final dos anos 1950, possuindo relevantes edificações modernistas em madeira, com soluções adequadas ao clima, à estética do movimento moderno e, principalmente, à necessidade de velocidade de construção para receber os construtores de Brasília", declarou a arquiteta. "A preservação desse conjunto é fundamental para a memória não apenas da Vila Planalto, mas para história da arquitetura do país", conclui. Leia matéria completa ![]() Mês do Patrimônio Cultural 2023 Os verdadeiros guardiões dos monumentos e da história de Brasília No mês em que o patrimônio cultural é celebrado, o Correio Braziliense falou com algumas lideranças que dedicam tempo e energia para conservar a memória e a cultura da capital do país. IAB estava presente. “'A comunidade é a melhor guardiã de seu patrimônio', disse o inovador designer e ex-presidente do Iphan Aloísio Magalhães. Neste mês do Patrimônio Cultural que se encerra, penso ser importante reconhecer a luta de lideranças do DF em defesa do seu patrimônio, principalmente dos bens que precisam ser preservados para além do Plano Piloto de Brasília. Acompanho, desde que cheguei a Brasília, há mais de 15 anos, as ações de algumas comunidades contra a destruição de seu patrimônio, com destaque para as lideranças de Planaltina. O Centro Histórico de Planaltina é o único assentamento urbano do DF onde ainda é possível ver exemplares arquitetônicos que vão do colonial, passando pelo ecletismo e art deco, chegando ao modernismo. É fundamental que o GDF crie condições para dar respostas e, junto a essas populações, que se organiza para fazer o que é possível e cobrar, garantir a preservação do patrimônio cultural do DF, que é diverso, importante, e está espalhado por todo o território. Há muita potência e resistência nesses territórios, mostrando que Aloísio estava certíssimo". Luiz Eduardo Sarmento, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do DF. José Leme Galvão Jr., o Soneca, Conselheiro Superior do IAB e vice-presidente da Associação dos Amigos do Teatro Nacional Cláudio Santoro (Atena). Foto: Minervino Jr / Correio Braziliense/D.A.Press Leia matéria completa ![]() A construção da profissão, um projeto O IAB iniciou as atividades do Projeto A Construção da Profissão no mês de julho. O projeto visa difundir a história e as perspectivas profissionais no campo arquitetônico. Através de pesquisas no acervo documental da IAB DF, pretende-se montar uma exposição com eixos relevantes para a profissão e atuação dos arquitetos. Além da exposição, foram convidados profissionais atuantes nas mais diversas frentes da arquitetura. O projeto foi idealizado e é executado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Distrito Federal (IAB.DF), com apoio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (FAU-UnB) e patrocínio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU/DF). A primeira palestra, realizada em 27 de julho, no auditório do CAU-DF, teve como temática 'Expografias em Arquitetura e Urbanismo', e contou com apresentações de Gabriela Bilá e Marcelo Sávio, que puderam falar sobre seus trabalhos com exposições, tecnologia e concursos. A gravação na íntegra está no canal do IAB-DF no YouTube: https://youtu.be/hwZ2QLgbuGE A segunda atividade aconteceu no dia 08 de agosto, também no auditório do CAU-DF, com as temáticas 'Expografias em Arquitetura e Urbanismo' e 'Pesquisar, construir narrativas e exposições'. As palestras foram ministradas por Muha Bazila e Luiza Coelho, cujos títulos foram, respectivamente: 'Arquitetura e Narrativas Históricas: uma análise racializada sobre memória e territórios' e 'O reconhecimento do trabalho feminino na arquitetura e urbanismo'. A gravação na íntegra está no canal do IAB-DF no YouTube: https://youtu.be/FxvR4GgovW8 A terceira atividade foi realizada no dia 05 de setembro no auditório da FAU/UnB, com Paula André e Danilo Matoso, os profissionais apresentaram seus trabalhos: 'Do Arquivo ao Atlas: infinitos sentidos dos valores culturais da arquitetura' e 'Por uma política nacional de acervos de arquitetura e urbanismo'. As palestras fizeram parte das temáticas: 'Acervos de arquitetura: potencial construtivo, potência histórica, ameaças e ativo cultural' e 'A formação da profissão de arquitetura e urbanismo no Brasil'. A gravação está disponível no instagram do IAB-DF: https://www.instagram.com/reel/Cw1GYAOs_En/?igshid=NzZhOTFlYzFmZQ== A quarta atividade, realizada no dia 13 de setembro no Auditório do CAU/DF, foi composta por duas palestras, com Ana Flávia Magalhães e Paulo Tavares, 'De reintegração de posse e desmonumentalização do racismo: exercícios de letramento histórico' e 'Pavilhão Terra'. As palestras integraram duas temáticas: 'Pesquisar, identificar objetos museológicos e construir narrativas. O que é curadoria?' e 'Construção de novas narrativas a partir de acervos documentais'. A gravação na íntegra está no canal do IAB-DF no YouTube: https://youtu.be/cn4AOSNRL0Y?si=xBsyMtcm_V2hl2Xy A quinta atividade deu início à nossa etapa de oficinas, que trata especificamente das atividades em acervo. No dia 16 de setembro, na sede do IAB-DF, no SCS, a arquivista Roseni Ximenes apresentou práticas, conceitos e técnicas sobre gestão documental e arquivos. A oficina contou com a presença de profissionais de campos diversos, que puderam conhecer e levar alguns itens da IAB-DF. ![]() Prêmio IAB 2023 O departamento do Distrito Federal do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB.DF) realizará a Premiação IAB 2023, com o objetivo de divulgar e premiar a produção intelectual e profissional de arquitetos, arquitetas e urbanistas do Distrito Federal. A premiação acontecerá em duas etapas: DISTRITAL e NACIONAL. As propostas premiadas na Etapa Distrital serão encaminhadas automaticamente para a Etapa Nacional. A participação é aberta a todos os profissionais associados do IAB em qualquer um dos seus Departamentos Estaduais e Distrital. CATEGORIAS DE PREMIAÇÃO IAB/DF 2023 selecionará propostas nas seguintes categorias, que serão as mesmas consideradas na Etapa Nacional:
Além das categorias acima, também poderão ser selecionadas propostas na(s) seguintes categorias distritais, que concorrerão, caso vencedores locais, nas categorias nacionais conforme indicado:
CRONOGRAMA
As inscrições são feitas pelo portal.arbo.org.br/ Baixe o edital aqui Apoie o IAB O IAB é uma entidade de livre associação, sem fins lucrativos e que só existe graças ao trabalho voluntário de seus dirigentes e parceiros e recursos dos associados e apoiadores. Associe-se ao IAB e mantenha sua anuidade em dia!
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Em nova iniciativa, o IAB.DF passará a enviar informes com algumas das atividades desenvolvidas pelos membros da gestão. Assim, temos uma comunicação mais clara e assertiva com nossos associados e interessados nas nossas ações! Além do recebimento em primeira mão pelos assinantes da nossa lista de email, os informes estarão disponíveis no nosso site e instagram. Caso seja associado, o informe vai automaticamente pra você, caso queira passar a receber nossas comunicações, é só preencher o formulário .
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O Departamento do Distrito Federal do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/DF) realizará a Premiação IAB 2023, com o objetivo de divulgar e premiar a produção intelectual e profissional de arquitetos, arquitetas e urbanistas do Distrito Federal. A premiação acontecerá em dois momentos: ETAPA ESTADUAL/DISTRITAL e ETAPA NACIONAL. As propostas premiadas na Etapa Estadual/Distrital serão encaminhadas automaticamente, sem necessidade de nova inscrição, para a Etapa Nacional. Após análise do Júri da Etapa Nacional, as propostas serão divulgadas em um resultado final. A participação está condicionada aos requisitos estabelecidos neste edital até a data limite de inscrição. 1. CATEGORIASA PREMIAÇÃO IAB/DF 2023 selecionará propostas nas seguintes categorias, que serão as mesmas consideradas na Etapa Nacional:
Além das categorias acima, também poderão ser selecionadas propostas na(s) seguintes categorias distritais, que concorrerão, caso vencedores locais, nas categorias nacionais conforme indicado:
As inscrições são feitas pelo portal.arbo.org.br/ Acesse o edital para mais informações sobre cronograma e condições de participação. ![]()
Pronunciamento da professora doutora Sylvia Ficher
17 setembro 2023 " Gostaria inicialmente de agradecer Yukie Watanabe, coordenadora-geral de Patrimônio Histórico do Itamaraty pelo gentil convite. Considerando a razão de ser deste nosso encontro – uma reflexão sobre o valor histórico, artístico e cultural acrisolado na arquitetura cívica da Capital Federal, eu vou me permitir começar citando uma crônica da jornalista e amiga Conceição Freitas, do dia 21 de abril passado. Tem por título, Nem-Nem. Com a palavra, Conceição: Num encontro recente com alunos de ensino médio de escolas públicas fora do Plano, perguntei se alguém sabia quem era Lucio Costa. Ninguém. Em outro, dias depois, os adolescentes não se consideravam nem candangos nem brasilienses. A capital da utopia, para eles, é uma imagem monótona e repetitiva que rola no celular ou na TV. – Candango é quem é pobre. – Brasiliense é quem é rico. – Somos nem-nem. Fecha aspas... E eles estão certos, eles são nem-nem. Esses jovens vivem uma segregação não só espacial, mas também simbólica. Para eles, este patrimônio, este local em que nos encontramos, tão valorizado em nosso meio, na nossa bolha, não diz nada. Sequer o conhecem. Se já estiveram em alguma visita aqui no Itamaraty, talvez tenham gostado mesmo é do dia de folga das aulas. Estão alijados dos códigos que permitiriam uma leitura da experiência, que permitiriam dar outros significados à experiência. Falar em educação patrimonial como tarefa pedagógica sem a contrapartida de apresentar com objetividade qual o porquê da preservação de um bem, seja material, sejam imaterial, é insistir em lições abstratas sobre valores transcendentais. Eu estou convencida que só se protege aquilo que se conhece, aquilo sobre o qual se tem referências claras, concretas. Aquilo que se é capaz de decifrar os códigos, se é capaz de reconhecer. E, ao reconhecer, fazer-se proprietário também. Para, assim, superar o desnível que há entre o entendimento que se tem da importância do patrimônio entre os aqui presentes e entre o entendimento de grande parte das pessoas. Esse descompasso é geral, diria mesmo, universal, entre padrões de gosto, entre níveis de informação, entre experiências de vida, entre valores culturais. Vou me permitir também repetir algumas considerações que fiz em evento recente no IPHAN, denominado "Palácios de Brasília: Projeto e Destino". Afinal, as preocupações são semelhantes. Em 1978, tendo recém concluído um mestrado sobre patrimônio arquitetônico e urbano, participei de uma reunião da SBPC na cidade de Santos. Exatos quarenta anos depois, em 2018 participei de outra reunião, desta vez na Fundação Cultural de Curitiba. Infelizmente, a questão era a mesma: os desafios da preservação. E a minha resposta também foi a mesma: informação, informação, informação. Mas informação direta, sem notas de pé de página e sem bibliografia. Nada explica dizer-se que o Palácio do Itamaraty é uma obra-prima de Oscar Niemeyer, uma obra-prima da arquitetura brasileira, reconhecido internacionalmente por seu alto valor artístico. São palavras vazias... Informação deve ser através de publicações de divulgação, guias despretensiosos, histórias em quadrinho, vídeos curtos como o TikTok e todo o arsenal digital disponível para quem quiser se aprofundar naquilo que lhe interessar. É preciso ter aplicativos. Eu costumava dizer que se não está na internet, não existe. Hoje eu digo: se não tem aplicativo, não existe. Tem aplicativo para tudo, até para beber água! Ou para namorar, como na música do jovem Gabriel Diniz, mais um artista morto em um desses trágicos acidentes com jatinhos, "O nome dela é Jennifer, eu conheci ela no Tinder". Daí a importância de se associar aplicativos e roteiros. Porque roteiros são imprescindíveis, com mapas simplificados, percursos e muitas ilustrações comparativas. E ficam melhor ainda se traduzidos em aplicativos. De modo a auxiliar na visita a bens de uma mesma classe, que ajudem a observar, diferenciar e, assim, reconhecer o que há em comum entre esses bens. No caso de Curitiba, roteiros sobre a arquitetura de madeira, sobre a arquitetura eclética do café, a arquitetura art-nouveau da virada do século ou sobre a arquitetura art-deco da industrialização. No caso de Brasília, um roteiro das sedes de fazendas remanescentes, de suas áreas de preservação ambiental, outro das etapas de construção da metrópole, outro ainda de sua arquitetura monumental, e assim por diante. Insisto, reconhecer é indispensável para o passo seguinte: apropriação, sentir-se proprietário do bem. Reconhecimento e apropriação, ou seja, adesão afetiva, na feliz expressão de Graça Ramos no citado evento do IPHAN. Ou, para citar mais uma música, aquela do Peninha, de grande sucesso na nossa bolha quando gravada na voz de Caetano: "Quando a gente gosta é claro que a gente cuida..." O resto todos nós já sabemos muito bem, são as tarefas rotineiras dos preservacionistas: levantamentos cadastrais, documentação, conservação de arquivos, capacitação técnica, atribuição de valores, definição de prioridade, etc., etc., etc. E portas abertas para se conhecer um bem para além daquilo que é público, para se conhecer suas entranhas e mistérios. Vale sempre o prazer de visitar o proibido!! " Fala pronunciada no Palácio do Itamaraty de Brasília dia 17 de agosto de 2023 no seminário "Palácios de portas abertas: conhecer para proteger" cuja programação foi a seguinte: 10h00: Abertura Embaixador Denis Fontes de Souza Pinto. Secretário de Gestão Administrativa/MRE 10h10: Senhor Leandro Grass. Presidente do !PHAN 10h25: Professora Doutora Sylvia Ficher. Professera Emérita da FAU/UnB 10h40: Mesa redonda Moderação: Conselheira Yukie Watanabe, Coordenadora-geral de Patrimônio Histórico/MRE 10h45: Senhor Rogerio Carvalho, Diretor Curatorial dos Palácios Presidenciais 10h55: Senhor Marcelo Sa de Sousa, Diretor do Museu da Câmara dos Deputados 11h05: Senhora Maria Cristina Silva Monteiro, Coordenadora do Museu do Senado 11h15: Senhor Estêvão Waterloo, Secretario-geral da Presidência do Supremo Tribunal Federal e Senhora Daniela Daros, Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da lnformação/STF 11h25: Debate/perguntas e respostas O Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento do Distrito Federal (IAB.DF), com apoio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (FAU-UnB) e patrocínio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU-DF), deu início às atividades públicas no mês de julho.
O primeiro evento faz parte de uma série de atividades programadas para acontecer entre julho e dezembro de 2023, como palestras e oficinas, culminando em uma exposição. “A construção da profissão: a história da do campo da arquitetura e urbanismo pelo acervo centenário do IAB em Brasília” foi contemplada por financiamento através de Edital de Chamamento Público do CAU-DF. A primeira palestra, realizada em 27 de julho, no auditório do CAU-DF, teve como temática ''Expografias em Arquitetura e Urbanismo'', e contou com apresentações de Gabriela Bilá e Marcelo Sávio, que puderam falar sobre seus trabalhos com exposições, tecnologia e concursos. A gravação na íntegra está no canal do IAB-DF no YouTube: https://youtu.be/hwZ2QLgbuGE A segunda atividade aconteceu no dia 08 de agosto, também no auditório do CAU-DF, com as temáticas 'Expografias em Arquitetura e Urbanismo' e 'Pesquisar, construir narrativas e exposições'. As palestras foram ministradas por Muha Bazila e Luiza Coelho, cujos títulos foram, respectivamente: 'Arquitetura e Narrativas Históricas: uma análise racializada sobre memória e territórios' e 'O reconhecimento do trabalho feminino na arquitetura e urbanismo'. A gravação na íntegra está no canal do IAB-DF no YouTube: https://youtu.be/FxvR4GgovW8 Estão programados mais eventos até o mês de dezembro, e as datas serão divulgadas nas redes sociais do IAB-DF. A próxima palestra acontecerá no dia 05/09, com Danilo Matoso e Paula André, e as informações estão no nosso instagram. Lembramos que todas as atividades são gratuitas e garantem certificado de participação! A preservação é inerente à vida, uma vez nascidos procuramos a longevidade. É similar no trato do patrimônio cultural. Preservar (praeservare, observar previamente), é o preceito mais genérico dos compromissos relativos ao direito à memória. Acolhe todas as ações que visam conservar o patrimônio cultural, ou sejam: identificação, proteção, conservação, restauração, manutenção e revitalização. O conceito mesmo do patrimônio cultural inclui a preservação como pressuposto. E esta se realiza no campo ou no espaço intermédio entre duas razões: A transformação e a conservação.
Preservar é não desperdiçar. Se incorporássemos socialmente como critério que preservar é não desperdiçar, tudo seria menos complicado. Preservação cultural, ou do patrimônio cultural exige uma boa compreensão do que é a cultura humana. Cultura é o caldo abrangente que envolve as relações humanas no espaço e no tempo. É a história e o futuro reconstruindo-se. É a evolução humana inexorável, vá para onde for, como um cometa que, em sua trajetória, perde e agrega matéria e energia. Nesses termos, significa a própria civilização humana em perspectivas histórica e espacial. Assim sendo e desde uma visão antropológica, é o patrimônio das gentes, que inclui o das pessoas. É, portanto, composto por todas os tipos que alcançam força simbólica e referencial, materiais e imateriais, sejam naturais ou produzidos total ou parcialmente pela humanidade. Aí vem as questões mais práticas, operacionais – como preservar? Há dois caminhos importantes: Proteger (tombar) e conservar. Proteger é complexo. Mas conservar é que é danado de difícil. Proteger exige compromissos legais e sociais combinados. Conservar exige comprometimento de apego, tempo, recursos humanos e econômicos, vontade política dos entes públicos, meios de financiamento e gestão de conflitos com a equivalente necessidade de renovar e criar. É preciso entender que o conhecimento cultural se opõe aos sofrimentos inerentes à vida e nunca foi e jamais será ameaça e causa de sofrimento e destruição – a não ser por licença poética. A preservação cultural inclui também a memória dos sofrimentos (a Guerra de Canudos, por exemplo) justamente para lembrarmos e aprendermos com nossos erros, com maior senso e condição para as sociedades civilizadas. Mesmo em situações nas quais a tecnologia pode aparelhar a destruição (instrumentos de guerra, por exemplo), tais situações são desvios da vocação do conhecimento em amplitude cultural – o bem estar – na verdade um freio às ações destrutivas. O uso impensado, rotulador e corriqueiro de comunista à toda forma de racionalidade inteligente é um desvio de foco para ocultar a realidade simplista dos modos mafiosos e falso-religiosos. Isso nos aproxima perigosamente do caos social, da dissolução do Estado e dos meios de governança republicana. Nesse cenário, instituições como o IPHAN terão grandes dificuldades de cumprir sua missão. Esperamos uma gestão democrática e plural do IPHAN, proporcional ao dispêndio de energia da sociedade civil em suas manifestações nos últimos anos, em especial entre as entidades com vínculos ativos no tema da preservação cultural. Reconhecemos que o IPHAN é autoritário por definição legal. E quem não é se for para cuidar? Nesse sentido e para que o IPHAN volte a cumprir seu papel essencial – preservar e fazer preservar o Patrimônio Cultural – deve evoluir e favorecer a gestão distribuída nos locais onde se dão os embates, reduzir a tradicional gestão centralista. De todo modo, aos 85 anos, o IPHAN é reconhecido por sua competência e resiliência, totalmente voltada à preservação da memória cultural brasileira. Se superadas as dificuldades políticas e o processo corrosivo recente, poderemos enfrentar com mais efetividade os problemas naturais das ações de proteção e conservação. Inclusive pelo enfrentamento de vontades opostas, nem sempre na plenitude democrática e republicana. Reitere-se, os trabalhadores da cultura, fazedores, produtores, servidores públicos e agregados, em sua maioria têm sido resilientes na defesa possível do patrimônio e das estruturas institucionais. A sociedade brasileira e, em particular, sua inteligência, de muitos modos e cores é amplamente empática à preservação da memória cultural, afinal se trata de auto-preservação. Já passamos por muitos momentos críticos, tanto de debilidade de meios como de agressões de gestores e legisladores. Todos temos a percepção de que a memória cultural – ethos – é nossa consistênca e sobrevivência social. Resistiremos! José Leme Galvão Junior – Conselho Superior do IAB Pronunciamento da professora doutora Sylvia Ficher:
" Gostaria inicialmente de agradecer Yukie Watanabe, coordenadora-geral de Patrimônio Histórico do Itamaraty pelo gentil convite. Considerando a razão de ser deste nosso encontro – uma reflexão sobre o valor histórico, artístico e cultural acrisolado na arquitetura cívica da Capital Federal, eu vou me permitir começar citando uma crônica da jornalista e amiga Conceição Freitas, do dia 21 de abril passado. Tem por título, Nem-Nem. Com a palavra, Conceição: Num encontro recente com alunos de ensino médio de escolas públicas fora do Plano, perguntei se alguém sabia quem era Lucio Costa. Ninguém. Em outro, dias depois, os adolescentes não se consideravam nem candangos nem brasilienses. A capital da utopia, para eles, é uma imagem monótona e repetitiva que rola no celular ou na TV. – Candango é quem é pobre. – Brasiliense é quem é rico. – Somos nem-nem. Fecha aspas... E eles estão certos, eles são nem-nem. Esses jovens vivem uma segregação não só espacial, mas também simbólica. Para eles, este patrimônio, este local em que nos encontramos, tão valorizado em nosso meio, na nossa bolha, não diz nada. Sequer o conhecem. Se já estiveram em alguma visita aqui no Itamaraty, talvez tenham gostado mesmo é do dia de folga das aulas. Estão alijados dos códigos que permitiriam uma leitura da experiência, que permitiriam dar outros significados à experiência. Falar em educação patrimonial como tarefa pedagógica sem a contrapartida de apresentar com objetividade qual o porquê da preservação de um bem, seja material, sejam imaterial, é insistir em lições abstratas sobre valores transcendentais. Eu estou convencida que só se protege aquilo que se conhece, aquilo sobre o qual se tem referências claras, concretas. Aquilo que se é capaz de decifrar os códigos, se é capaz de reconhecer. E, ao reconhecer, fazer-se proprietário também. Para, assim, superar o desnível que há entre o entendimento que se tem da importância do patrimônio entre os aqui presentes e entre o entendimento de grande parte das pessoas. Esse descompasso é geral, diria mesmo, universal, entre padrões de gosto, entre níveis de informação, entre experiências de vida, entre valores culturais. Vou me permitir também repetir algumas considerações que fiz em evento recente no IPHAN, denominado "Palácios de Brasília: Projeto e Destino". Afinal, as preocupações são semelhantes. Em 1978, tendo recém concluído um mestrado sobre patrimônio arquitetônico e urbano, participei de uma reunião da SBPC na cidade de Santos. Exatos quarenta anos depois, em 2018 participei de outra reunião, desta vez na Fundação Cultural de Curitiba. Infelizmente, a questão era a mesma: os desafios da preservação. E a minha resposta também foi a mesma: informação, informação, informação. Mas informação direta, sem notas de pé de página e sem bibliografia. Nada explica dizer-se que o Palácio do Itamaraty é uma obra-prima de Oscar Niemeyer, uma obra-prima da arquitetura brasileira, reconhecido internacionalmente por seu alto valor artístico. São palavras vazias... Informação deve ser através de publicações de divulgação, guias despretensiosos, histórias em quadrinho, vídeos curtos como o TikTok e todo o arsenal digital disponível para quem quiser se aprofundar naquilo que lhe interessar. É preciso ter aplicativos. Eu costumava dizer que se não está na internet, não existe. Hoje eu digo: se não tem aplicativo, não existe. Tem aplicativo para tudo, até para beber água! Ou para namorar, como na música do jovem Gabriel Diniz, mais um artista morto em um desses trágicos acidentes com jatinhos, "O nome dela é Jennifer, eu conheci ela no Tinder". Daí a importância de se associar aplicativos e roteiros. Porque roteiros são imprescindíveis, com mapas simplificados, percursos e muitas ilustrações comparativas. E ficam melhor ainda se traduzidos em aplicativos. De modo a auxiliar na visita a bens de uma mesma classe, que ajudem a observar, diferenciar e, assim, reconhecer o que há em comum entre esses bens. No caso de Curitiba, roteiros sobre a arquitetura de madeira, sobre a arquitetura eclética do café, a arquitetura art-nouveau da virada do século ou sobre a arquitetura art-deco da industrialização. No caso de Brasília, um roteiro das sedes de fazendas remanescentes, de suas áreas de preservação ambiental, outro das etapas de construção da metrópole, outro ainda de sua arquitetura monumental, e assim por diante. Insisto, reconhecer é indispensável para o passo seguinte: apropriação, sentir-se proprietário do bem. Reconhecimento e apropriação, ou seja, adesão afetiva, na feliz expressão de Graça Ramos no citado evento do IPHAN. Ou, para citar mais uma música, aquela do Peninha, de grande sucesso na nossa bolha quando gravada na voz de Caetano: "Quando a gente gosta é claro que a gente cuida..." O resto todos nós já sabemos muito bem, são as tarefas rotineiras dos preservacionistas: levantamentos cadastrais, documentação, conservação de arquivos, capacitação técnica, atribuição de valores, definição de prioridade, etc., etc., etc. E portas abertas para se conhecer um bem para além daquilo que é público, para se conhecer suas entranhas e mistérios. Vale sempre o prazer de visitar o proibido!!" Fala pronunciada no Palácio do Itamaraty em Brasília, dia 17 de agosto de 2023, no evento "Palácios de portas abertas" cuja programação foi a seguinte: 10h00: Abertura Embaixador Denis Fontes de Souza Pinto. Secretário de Gestão Administrativa/MRE 10h10: Senhor Leandro Grass. Presidente do IPHAN 10h25: Professora Doutora Sylvia Ficher. Professera Emérita da FAU/UnB 10h40: Mesa Redonda Moderação: Conselheira Yukie Watanabe, Coordenadora-geral de Patrimônio Histórico/MRE 10h45: Senhor Rogerio Carvalho, Diretor Curatorial dos Palácios Presidenciais 10h55: Senhor Marcelo Sa de Sousa, Diretor do Museu da Câmara dos Deputados 11h05: Senhora Maria Cristina Silva Monteiro, Coordenadora do Museu do Senado 11h15: Senhor Estêvão Waterloo, Secretario-geral da Presidência do Supremo Tribunal Federal e Senhora Daniela Daros, Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da lnformação/STF 11h25: Debate/perguntas e respostas O IAB.DF lamenta profundamente o falecimento do arquiteto e urbanista Gunter Rolan Kohlsdorf Spiller, ocorrido nesta quarta-feria, dia 26/07/2023.
Arquiteto e urbanista premiado, foi professor da FAU.UnB com vasta e importante produção acadêmica. Seu livro o “Ensaio sobre o Desempenho Morfológico das Cidades”, em coautoria com sua esposa, Maria Elaine Kohlsdorf é uma referência. Gunter foi um incansável ativista pelo desenvolvimento da profissão, tendo doado seu tempo e conhecimento ao IAB.DF, principalmente por meio de sua atuação na Comissão de Política Urbana, e também no CAU.DF, onde foi conselheiro e coordenador de comissões. Neste momento de dor o IAB.DF se solidariza com amigos e familiares, em especial com sua esposa, a arquiteta e urbanista Maria Elaine Kohlsdorf. ![]() O Censo de 2022 teve seus primeiros dados divulgados no dia 28 de junho, e trouxe algumas informações sobre o panorama nacional de crescimento e também de questões habitacionais. O Distrito Federal, segundo os dados recém-publicados, tem atualmente um total de 1.172.588 domicílios, dos quais 148.846 mil encontram-se desocupados. Contrastando-se esses números aos do Censo de 2010, nota-se um aumento muito expressivo no número de domicílios não ocupados1. Em 2010, havia 80.584 imóveis na mesma situação. O último levantamento, realizado em 2022, especificou ainda a categoria de imóveis não-ocupados de uso ocasional2, que totaliza 33.779 unidades no DF. Adicionando-se esse número ao número de domicílios não ocupados, a diferença do índice em relação ao último levantamento representa que o número de imóveis vazios mais que dobrou, totalizando 182.625 mil. Ao mesmo tempo que a vacância imobiliária torna-se mais expressiva, o déficit habitacional também aumenta no DF. O conceito de déficit habitacional sustenta os indicadores que buscam estimar a falta de habitações e/ou existência de habitações em condições inadequadas como noção mais ampla de necessidades habitacionais (FJP, 2021). O levantamento mais recente do DF, cruzado com informações da Pesquisa Distrital por Amostra de Dados (PDAD), indicou um total de 102.984 domicílios. O componente de maior expressão é Ônus excessivo com aluguel – 52,10% do total; seguido da Precariedade dos domicílios – 26,84%; depois do Adensamento excessivo – 10,89%; e, por último, da Coabitação familiar – 10,16%, de acordo com dados da Seduh de 2021. Esse número de domicílios não ocupados também é superior à estimativa do Panorama Habitacional Prospectivo para o DF, realizado em 2018, pela Companhia de Planejamento do DF (CODEPLAN) que prospectou que o déficit habitacional do DF estaria entre 133 mil e 150 mil domicílios em 2025. Isso demonstra, que há imóveis suficientes na Capital Federal para suprir a demanda total por moradias – tanto quantitativa, quanto qualitativa. Os componentes qualitativos do déficit não necessariamente têm como ‘resposta’ mais adequada a criação de uma nova unidade habitacional. Muitas vezes, algumas melhorias nas construções e na infraestrutura de serviços podem configurar a adequação de uma moradia. Ainda assim, o número de domicílios vazios seria capaz de absorver todos os tipos de demanda habitacional registradas atualmente no DF. Ausência de política pública A diferença entre oferta e demanda de domicílio é representativa da desigualdade social que se intensificou na cidade no período em questão. A investigação dos padrões da produção imobiliária local entre os Censos, se feita, indicaria o descompasso entre a falta de produção de unidades habitacionais direcionados a fatia da população que não tem seu direito constitucional à moradia garantido, e ao grande número de unidades habitacionais que são direcionadas a um público consumidor que não usa seus imóveis para morar. O próprio Censo levantou o aumento de 36,88% no número de unidades habitacionais, esse número representa 317.092 novas habitações, muitas delas em regiões como Águas Claras, Noroeste e Jardim Botânico. Essas regiões não possuem o déficit habitacional tão expressivo como a Unidade de Planejamento Territorial Oeste, composta por Ceilândia, Taguatinga, Samambaia e Brazlândia, que representa 34,35% do déficit do Distrito Federal. Apesar do grande número de imóveis desocupados, nunca houve no DF, uma política pública voltada ao seu aproveitamento para Habitação de Interesse Social, apesar do debate ocorrer entre técnicos da área, acadêmicos e movimentos sociais. Não há a visibilidade desejada para essa questão, mesmo que estudos e experiências em outras grandes cidades já tenham demonstrado que a readequação de imóveis seguida da realocação populacional pode representar economia aos cofres públicos. Essa estratégia ainda ataca a falta de função social dos imóveis vazios em áreas munidas de serviços e infraestrutura urbana, bem como e permite dinamizar áreas urbanas subutilizadas. Contradições No levantamento realizado pelo Observatório Territorial do Distrito Federal, baseado em dados da CAESB, somente em 2016, 41 mil unidades habitacionais estavam com a rede de água inativa. Segundo esses dados, podemos ver uma grande contradição: o Plano, que é o destino de grande parte da força de trabalho do DF tem o maior número de imóveis desocupados, e a Ceilândia, cidade com maior déficit absoluto do DF, está logo em terceiro lugar no levantamento. Levantamento realizado pelo Observatório Territorial do Distrito Federal / Reprodução Seduh O próprio Plano Distrital de Habitação de Interesse Social cita a questão dos móveis ociosos, que podem ser objeto de aplicação dos instrumentos urbanísticos visando sua ocupação pela população de baixa renda. Um desses instrumentos é o PEUC (Parcelamento, Edificação ou Utilização Compulsórios), aplicado quando o imóvel não cumpre sua função social, é um instrumento do Estatuto da Cidade, ainda não regulamentado no Distrito Federal. Vale lembrar também que a demanda por recursos e infraestrutura como água, iluminação, esgoto e pavimentação, é muito custosa, e o Distrito Federal já enfrenta alguns problemas por conta do crescimento desordenado, relacionado diretamente aos custos e dificuldade de acesso à habitação digna. :: Leia outros textos desta coluna aqui :: * Cecília Almeida – Diretora Cultural e de Divulgação do Instituto de Arquitetos do Brasil do Distrito Federal ** Clarissa Sapori – Mestra em Planejamento Urbano. Coordenadora da Comissão de Política Urbana do Instituto de Arquitetos do Brasil do Distrito Federal. Cláudia Sales no evento “Arquitetura e feminismo: Sem começo nem fim”. Texto republicado do Coletivo Arquitetas Invisíveis
O mês de julho é marcado por 2 datas de grande relevância para a construção e debate sobre equidade, inclusão e visibilidade das mulheres no campo da arquitetura e urbanismo: o dia 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, e o dia 31 de julho, Dia Nacional da Arquiteta e Urbanista. Neste ano, a Coletiva Arquitetas (in)Visíveis, em conjunto com o IAB.DF e a Vice-Presidência Extraordinária de Ações Afirmativas do IAB, colaboraram com o Instituto Cervantes para montar a Exposição Arquitetura e Feminismo: sem começo nem fim, em Brasília. A exposição aborda o cotidiano dos espaços arquitetônicos, centralizando o ponto de vista das pessoas que tradicionalmente têm sido ignoradas e propondo alternativas mais igualitárias. Como parte da programação paralela à exposição, realizamos no dia 20 de julho uma mesa de debate sobre como habitar os espaços de forma mais sustentável, empática e justa, a partir da perspectiva feminista na arquitetura e urbanismo. O debate foi extremamente rico, contando com a participação de Semiramis González, curadora da exposição, Martha Fonseca Salinas, Collectiu Punt 6, Maribel Aliaga, observatório amar.é.linha, e Claudia Sales, conselheira federal do CAU/BR. Hoje, dando continuidade às celebrações deste mês e do Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, compartilhamos com todas, todes e todos a fala da arquiteta, urbanista e pedagoga Claudia Sales de Alcântara, que aborda a urgência de decolonizar o ensino para promover mudanças nas nossas cidades e sociedade. @claudiasalcantara ressalta a necessidade de DEcolonizar o ensino de arquitetura e urbanismo, construindo outras pedagogias e epistemes para além das dominantes, voltadas para os sujeitos subalternizados pela colonialidade, como indígenas, negros, mulheres e outros marcadores de diferença contrapostos às lógicas educativas hegemônicas, que são predominantemente masculinas e brancas. Somente assim poderemos avançar verdadeiramente. “Nossas arquitetas não cabem no ‘modulô”. Que estas reflexões inspirem a todos nós a construir um futuro mais equânime, generoso e transformador! ___________________________________________________________________ “Gênero, Raça e Planejamento de cidades”: decolonizar o ensino para mudar. Cláudia Sales de Alcântara Todas as pessoas deveriam sentir-se à vontade no espaço urbano, em qualquer lugar e a qualquer hora. O espaço urbano deveria ser democrático e as cidades seguras. O urbanismo deveria beneficiar todos, todas e todes, por intermédio de um espaço público mais inclusivo. Após décadas de cidades projetadas por e para homens, chegamos à conclusão de que o planejamento urbano não é neutro e que é preciso incluir as mulheres nele. Devemos pensar em propostas que consigam ir além de rever a má iluminação das vias, ou aumentar a vigilância, devemos pensar em como investir em estruturas urbanas inclusivas para criar espaços de convivência para que todos usufruam do direito à cidade. O CAU BRASIL tem se comprometido com a pauta da promoção da Equidade de Gênero na Arquitetura e Urbanismo por meio da Comissão Temporária de Equidade de Gênero do CAU/BR (2019), da Comissão Temporária de Política de Equidade de Gênero do CAU/BR (2020) e Comissão Temporária de Raça, Equidade e Diversidade (2021 – 22), incluindo a perspectiva das mulheres no desenvolvimento das cidades brasileiras por meio de uma nova abordagem de participação e a possibilidade de romper esses limites que definem o acesso das mulheres à cidade, tornando-as mais inclusivas e segura para todas as pessoas. Como instituições reguladoras e fiscalizadoras da profissão que moldam os espaços da moradia e do exercício da cidadania, o CAU/BR e os CAU/UF têm papel fundamental nesse contexto, pois podem esclarecer a sociedade sobre a importância do direito universal à cidade. Assim, buscam seu protagonismo como referência em planejamento e gestão democrática e inclusiva, especialmente porque mais da metade da categoria de arquitetos e urbanistas é composta por mulheres. Atender as demandas das mulheres no planejamento urbano não implica fazer uma cidade especializada unicamente para elas, excluindo o lugar e as necessidades dos outros cidadãos, mas afirmar uma perspectiva que representa uma nova abordagem de inclusão, do olhar, da opinião, da percepção e da contribuição das mulheres na construção da cidade contemporânea, trazendo uma nova dimensão ao desenvolvimento da cidade e da sociedade. Pensar as cidades a partir das necessidades de uso das mulheres é refletir sobre a infraestrutura do espaço urbano para responder às atividades do cotidiano também delas. Porém, quero trazer aqui mais uma camada interseccional para ser trabalhada com a questão de gênero, que é a questão racial. Isso porque ainda hoje no Brasil, as mulheres negras são quem protagonizam os piores indicadores sociais. As vivências de mulheres pretas são distintas das de mulheres brancas. Para nós, mulheres pretas, as experiências individuais e coletivas que nos movem são derivadas do enfrentamento diário pela sobrevivência em um ambiente estruturalmente racista, fruto de uma herança escravocrata que ainda não foi encarada como se deveria. A socióloga Ednéia Gonçalves elucida essa questão quando diz que:
Diante do exposto, quero concentrar minha fala colocando a necessidade de se trabalhar a questão de cidade gênero, numa perspectiva de justiça racial que nos permita a oportunidade de desconstruir estruturas que contribua para uma série de violações de direitos e nos permita obter uma compreensão mais profunda de como as estruturas racistas e patriarcais que se sobrepõem e que precisam ser debatidas e solucionadas. Entendo que essa questão envolve fundamentalmente a nossa formação para o exercício profissional. Se não fizermos uma revisão nos nossos currículos, um giro decolonial na nossa formação, não sairemos do canto, não conseguiremos construir as respostas que de fato são necessárias para esse contexto. A autora Thais Luzia Colaço utiliza o termo “decolonial”, suprimindo o “s” para marcar uma distinção com o significado de descolonizar em seu sentido clássico. Deste modo quer salientar que a intenção não é desfazer o colonial ou revertê-lo, ou seja, superar o momento colonial pelo momento pós-colonial. A intenção é provocar um posicionamento contínuo de transgredir e insurgir. O decolonial implica, portanto, uma luta contínua”. Indica uma superação do colonialismo — o qual é a base do patriarcado e o racismo; por seu turno, a ideia de decolonialidade indica exatamente o oposto e visa transcender a colonialidade. Precisamos DEcolonizar o ensino de arquitetura e urbanismo, construindo outras pedagogias e epistemes para além da hegemônica, a partir dos sujeitos subalternizados pela colonialidade, como indígenas, negros, mulheres e outros marcadores das diferenças contrapostas às lógicas educativas hegemônicas, que são masculinas e brancas. Só assim conseguiremos avançar. Os teóricos que estudamos são em sua maioria, ainda hoje, eurocêntricos e estadunidenses, não nos aprofundamos na produção de conhecimento latino-americana, voltada para América Latina, e por esse motivo, acabamos reproduzindo um conhecimento filosófico, metafísico, eclesiástico, arquitetônico, formado nesses países de centro, que não possui conexão com nossa realidade social e cultural. O que a gente faz é tentar de alguma maneira aplicar esses conhecimentos a nossa realidade, o que não funciona, fazendo com que as coisas feitas aqui pareçam ser muito distantes daquele ideal hegemônico. Logo, a nossa produção passa a ser vista como algo menor, como uma coisa que não conseguiu chegar lá, capenga e “tupiniquim”. Os cursos de Arquitetura e do Urbanismo no Brasil, tentando se inserir na linha histórica dos países europeus, valorizaram desde o seu nascedouro a seleção e organização do conhecimento produzidos nesses países de centro, como fundamento para a formação dos profissionais brasileiros. Esses conhecimentos foram distribuídos em, pelo menos, quatro principais eixos — teoria, história, projeto (arquitetura, urbanismo e patrimônio) e tecnologia — que se estruturam quase que de forma autônoma e independente, com pouca articulação e transversalidade e interdisciplinaridade. E isso por si só já é um prejuízo! Porque se tem um processo formativo fragmentado, na lógica do processo industrial (fabril), capitalista e colonial, onde se acredita que na junção das partes, forma-se o todo. E a gente já sabe, que, na prática, não funciona desta forma… Adotando o paradigma Moderno de fazer ciência — modelo esse eurocêntrico, dos países históricos (Flüsser) — impomos nas nossas escolas um pensamento cartesiano e positivista de enxergar a cidade e o edifício, simplificando problemas complexos, construindo de forma instrumental, linear e sucessiva o conhecimento. Então, a temática DA DECOLONIZAÇÃO DO ENSINO DE ARQUITETURA é uma temática que me obriga a falar desse projeto de modernidade, que continua presente nos cursos, numa lógica opressora para mulheres, pretos, povos originários, PCDs, etc. E me convida a pensar e construir paradigmas que rompam com essa produção de conhecimento de episteme eurocêntrica. E isso é muito difícil, porque ninguém quer fazer uma imersão em si: dá trabalho, mexe com problemas e feridas que não queremos lembrar e revisitar, nos obriga a rever e criticar o que já foi hegemonicamente colocado para nós, como se não nos houvesse outra opção, de forma “naturalizada”, numa espécie de violência simbólica onde nós, não percebendo essa violência que nos foi e é imputada, acabamos criando mecanismos de manutenção e reprodução dessa violência (Bourdieu). É o que Cida Bento chama de pacto da branquitude. Na arquitetura, mais especificamente, esse pensamento estruturado no modo cartesiano e positivista de enxergar a realidade, chega no seu expoente máximo no MODERNISMO, estabelecendo uma maneira de enxergar e projetar o objeto arquitetônico e a cidade. E nós, adotamos, sem sermos modernos, e sem passarmos pela revolução industrial, pelos mesmos problemas de ordem econômica-social que desembocou no modernismo europeu, esse paradigma como estruturante epistemológica das nossas escolas, e consequentemente em nossas cidades, desconsiderando nosso próprio processo histórico, marcado por diversas violências de gênero e raça. Por que estou dizendo tudo isso? Porque se quisermos habitar os espaços de forma mais sustentável, igualitária e justa, o nosso tema deve ser primeiro a DECOLONIZAÇÃO do campo da arquitetura e urbanismo. Porque a supervalorização do moderno, ainda tão presente nas escolas de arquitetura e urbanismo, gera pelo menos três problemas centrais, impeditivos para se construir espaços mais empáticos, uma profissão mais inclusiva e uma sociedade mais equânime a partir da arquitetura e urbanismo, são eles: o discurso, o projeto e o conteúdo das nossas escolas. O primeiro é o discurso, a falsa ideia que a verdadeira arquitetura brasileira foi aquela produzida durante o movimento moderno, numa tentativa “purista” e higienista, de se inserir na história da arquitetura “mundial”. Qual é o prejuízo desse tipo de supervalorização?: é que, se o modernismo brasileiro é a nossa arquitetura que “deu certo”, que nos projetou internacionalmente (aquela — falsa — sensação de que nos inserimos na linha histórica dos países de centro), então todos os estudantes querem copiar esse paradigma! Porque é mais seguro “colar” em algo que deu certo. E como prejuízo da supervalorização desse discurso, temos projetos que muitas vezes só contribuem para a manutenção e reprodução de uma arquitetura cartesiana e objetiva, distante da área criativa da complexidade da sociedade, que não cabe num “modulô”. O segundo problema está na maneira de fazer projeto que esse paradigma imprimiu e reproduzimos em muitas das nossas escolas. Já sabemos disso, mas falarei novamente, para os modernistas a forma do objeto arquitetônico deveria seguir a função. Portanto, a forma surge da articulação de atividades resolvidas em planta-baixa (elemento gerador do projeto). Frases clássicas como a de Le Corbusier — A Casa é uma Máquina de Morar — e a de Mies Van der Rohe — Menos é Mais — exaltavam os quesitos funcionais do projeto e ganharam o mundo, principalmente depois da segunda grande guerra. Iniciamos, geralmente, pela planta-baixa, depois eleva-se os cortes e fachadas. Essa forma de projetar faz com que o estudante não consiga ter uma visão geral (total), mais complexa do objeto, pois, sempre trabalha por partes, de forma fragmentada. Isso gera problemas não só de representação e de projeto, mas, problemas na maneira de ler a realidade, de ler o projeto, de ler o edifício, ler a cidade. Falta de conexão com as demais disciplinas, principalmente as de história. Esse modo de fazer projeto, fruto dessa racionalidade técnica eurocêntrica, centrada no olho, nada tem a ver com nossa cultura latino-americana, repleta de gestos, sentidos, excessos e mestiçagens. Para nós deveria ser “Mais é mais e menos é um tédio” (Iris Barrel), como sonhava Ariano Suassuna em seu manifesto Armorial:
O terceiro problema é que esse paradigma faz uma demarcação daquilo que deve ser estudado com uma certa importância e aquilo que deve ser deixado de lado, ele seleciona os conteúdos, ele fragmenta e diz aquilo que é importante e aquilo que é secundário, aquilo que é arte e aquilo que não é, aquilo que é arquitetura e aquilo que não deve ser. Supervaloriza os conhecimentos dos países históricos, e despreza e invisibiliza os saberes populares e conhecimentos dos demais contextos e culturas (demarcação de poder). E isso gera GRANDE PROBLEMA: o fato de eu eleger uma arquitetura como hegemônica, faz com que eu perceba com que toda a outra produção, ela seja colocada como uma categoria a parte, menor ou invisibilizada. É uma arquitetura e um urbanismo menor, que não precisa ser visto, não precisa ser visitado, não precisa ser analisada e protegida. Nós não estudamos a América Latina e sim a Europa. Não conhecemos as contribuições incas, maias, tupis, mas estudamos a Grécia Antiga e sabemos distinguir uma coluna dórica, jônica e coríntios! Vocês já se perguntaram a quem isso interessa? Nos aprofundamos nas obras dos “grandes” arquitetos do modernismo mundial e brasileiro, mas quando olhamos a cidade, o que a gente tem, não é exatamente esse exemplar. O que está sendo produzido são outras coisas: mestiças, ecléticas, femininas e barrocas. Fruto de uma série de fatores, que nós não estudamos nas escolas de arquitetura, e aí a gente se frustra! As escolas de arquitetura invisibilizam essa produção mestiça, marcada pela presença de negros, pardos, indígenas e mulheres, a produção feita a partir da diversidade de culturas e dos problemas do dia a dia; para supervalorizar uma produção que se assemelhe com a produção hegemônica dita “pura” e intelectualizada, o que supostamente nos levaria a um “reconhecimento e validação” dos países de centro. Habitar os espaços de forma mais sustentável, igualitária e justa, só será possível quando conseguirmos mudar nosso modo de estruturar os cursos de arquitetura e urbanismo, quando tivermos realmente dispostos a decolonizar e assumir nossa condição latino-americana. Eu ainda não sei como fazer isso, mas sei que um primeiro passo é trazer o tema para discutirmos nas universidades, entidades e conselho profissional, acreditando que outros caminhos também são possíveis. Como dizia Paulo Freire: “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. “Mudar é difícil, mas é possível”. Dia 25 de Julho. Viver o Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha é relembrar a grande questão social brasileira a ser enfrentada.
São elas as principais impactadas pelas políticas de austeridade, pela ausência de políticas públicas e pelos descompassos da precarização urbana no país. O enfrentamento diário ao machismo e racismo torna o espaço urbano ainda mais desafiador, e nos faz questionar: em que momento nossas cidades se atentarão às políticas de enfrentamento, tanto para a violência racial quanto de gênero? Essa violência contra a mulher racializada no Brasil, assim como nos países advindos de processos históricos de colonização, corroboram para uma visão hiperssexualizada, de silenciamento das suas histórias e de subalternização deste corpo feminino em evidência (GONZALEZ, 1992). No Brasil, elas são maioria, representando quase 23,4% da população brasileira. No DF, também se apresentam como maior parcela da população, chegando a quase 28,7% dos habitantes. (PDAD, 2021), Em Brasília (IPE DF, 2021), mulheres negras são maioria nos deslocamentos, representando 35,5% do andar a pé no DF. E que cidade se apresenta durante esses percursos? Como estão os espaços públicos, a infraestrutura e uma perspectiva de morar dignamente nos núcleos urbanos, periféricos e centrais? Veja também a coluna do IAB no Jornal Brasil de Fato DF: Brasília, por que ignora sua segregação escancarada? Pensando na mulher negra como maior parte do contingente feminino racializado no espaço, o Brasil tem um contraste agravante entre as condições sociais de mulheres negras e mulheres brancas no país. Em 2023, a violência contra mulheres chegou a números alarmantes, onde a cada 11 vítimas de feminicídio, 7 são negras, segundo os dados da Anistia Internacional (2023). Quando observamos as condições socioeconômicas, as reflexões de desigualdade e da feminização da pobreza também nos mostram um longo caminho a se enfrentar: mulheres negras têm uma menor participação em trabalhos com carteira assinada e os menores índices de ocupação em cargos de chefia (IBGE, 2022). Segundo os dados do 1° diagnóstico de Gênero elaborado em 2019 pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/BR), as mulheres negras arquitetas representam a maior taxa de desemprego na carreira (44%), o que não provoca espanto ao analisarmos os dados sociais de nossa população. Inclusive, a invisibilidade de mulheres indígenas nas estatísticas também demonstra a incipiência de dados sobre as suas formas de vida, e se reflete também como um dado, pensando a ausência de informações das suas atuações, tanto no nosso campo de trabalho quanto como precursoras da vida, dentro e fora de nossas cidades. Uma cidade universal, feita para todas, todes e todos, não deveria significar a sua homogeneização. Nos aspectos do planejamento urbano, a condição feminina, afrolatinoamericana, índigena e caribenha, ainda é conhecida comumente nas condições da precarização. Porém, suas vivências, histórias e existências perpassam essas condições e são a chave da libertação de uma representação redutível, que não condicione-as à mera imagem de violência, subserviência ou pobreza. Além da representação desses dados, uma descentralização do planejamento urbano deve ser o foco para os próximos anos, condizente às demandas na arquitetura e na cidade. É crucial o comprometimento de se realizar novas abordagens da teoria e prática, onde o campo da arquitetura e do urbanismo enfrente os antecedentes colonizadores (ainda presentes) e aborde a visão das mulheres racializadas, negras, indígenas e afrodiaspóricas como dimensões analíticas, referências no espaço. Texto: Raquel Freire Revisão: Luiza Dias Coelho Peças de comunicação: Cecília Almeida Comissão Extraordinária de equidade de gênero e raça Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento do Distrito Federal Referências: GONZALEZ, Lélia. Por uma categoria político-cultural de Amefricanidade. 1992. Rio de Janeiro. Instituto de Pesquisa Econômica Distrito Federal (IPE DF). Retratos Sociais 2021 de Pessoas Negras. Brasília: 2021. Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio (PDAD). Brasília: CODEPLAN, 2021. |
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