Preservar Brasília é também preservar seus acabamentos e texturas históricas: Carta aberta ao GDF sobre as obras no Eixo Residencial O Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento do Distrito Federal vem manifestar sua preocupação com a retirada dos ladrilhos terracota das tesourinhas da Asa Sul, durante as reformas que ocorrem desde Novembro de 2019. Segundo informações da Agência Brasília, portal de notícias oficial do GDF, as tesourinhas do Plano Piloto estão sofrendo um processo de recuperação de estrutura e estética, de acordo com um projeto desenvolvido pela Novacap e aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. No caso das tesourinhas da Asa Sul, os ladrilhos estão sendo retirados e o acabamento final da obra é concreto aparente, como são as tesourinhas da Asa Norte. É importante ressaltar que esses revestimentos de ladrilho são característicos do acabamento dos viadutos e passagens de pedestre da Asa Sul que, por ter sido implantada anteriormente, se diferencia da Asa Norte. Sendo, portanto, um testemunho do acabamento das obras públicas dos primeiros anos da construção de Brasília. Padronizar o acabamento seguindo um padrão mais recente e claramente menos cuidadoso é desrespeitoso com a identidade do lugar e as texturas escolhidas nos primeiros momentos da cidade moderna, que buscava uma unidade visual para todo o conjunto. Na Asa Sul é possível identificar com bastante clareza essa busca de unidade que, para além da volumetria das edificações, chega ao menor dos detalhes construtivos. O revestimento tão característico dos viadutos da Asa Sul é exatamente o mesmo que cobre as fachadas do Cine Brasília, projeto de Oscar Niemeyer tombado distritalmente. Revestimentos similares estão em outras edificações importantes e acabamentos de espaços urbanos em Brasília. Lajotas brancas, de mesma proporção revestem as áreas de circulação de automóveis na Rodoviária do Plano Piloto, assim como as estruturas de contenção dos desníveis da Esplanada dos Ministérios e as empenas dos próprios ministérios. O mesmo material foi especificado para revestir os pontos de ônibus projetados em 1961 por Sabino Barroso, também tombadas à nível distrital. Estão também nas mais antigas super quadras, revestindo os módulos das prefeituras locais e da Companhia Energética de Brasília. É interessante notar a lógica da escolha dos revestimentos: na região monumental da cidade, lajotas brancas, nos subterrâneos das áreas residenciais, lajotas terracota. É preocupante que o Governo do Distrito Federal não tenha com nosso patrimônio urbano o mesmo cuidado e respeito que tem com o arquitetônico, e é ainda mais preocupante que o Iphan permita esse tipo de intervenção que empobrece o espaço urbano tombado nacionalmente e reconhecido como Patrimônio Mundial (o primeiro construído no século XX reconhecido pela Unesco). A preservação do conjunto urbanístico de Brasília requer cuidados nas escolhas para as obras de conservação para que estas não acabem mutilando o bem. As recentes intervenções feitas pelo GDF adulteraram a paisagem bastante assimilada e reconhecida pela população e história do sítio vão contra as orientações internacionais e boas práticas nas intervenções em sítios listados como Patrimônio Mundial. Há tecnologia e meios suficientes para recuperar a estrutura das Tesourinhas mantendo o seu caráter identitário. Essas obras que promovem a remoção das texturas, dos acabamentos históricos, assimilados e reconhecidos da paisagem urbana da Capital, reforçam a perda de identidade, a destruição de um elemento bastante icônico do Conjunto Urbano Tombado, colaborando ainda mais na sua transformação em uma cidade genérica, com viadutos genéricos e de difícil higienização de suas superfícies. Um patrimônio de caráter mundial merece um cuidado condizente à sua importância, que vai desde o traçado urbano de Lúcio Costa, aos revestimentos e acabamentos originais e ou históricos. As justificativas para a retirada do revestimento devem ser melhor esclarecidas ou revertidas, pois as tesourinhas são elementos importantes da identidade da cidade, e a ação sobre elas deve ser discutida com a comunidade. Até o momento, os ladrilhos da SQS 203/4 e da SQN215/16 foram retirados, e outras Tesourinhas já foram fechadas para início da reforma. O Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento do Distrito Federal vêm, portanto, cobrar um posicionamento do Governo do Distrito Federal e do Iphan antes que os revestimentos originais das demais tesourinhas da Asa Sul sejam também destruídos e a obra entregue em concreto aparente. Em um conjunto urbano, não só os grandes monumentos são importantes, mas também os detalhes, que em especial nesse sítio, fruto da inteligência e dos esforços de inúmeros brasileiros, Capital do País e do Design Mundial. São também esses elementos relegados nessas obras, que fazem Brasília ser uma Capital Mundial do Design e respeitada internacionalmente por sua arquitetura e urbanismo. Preservemos Brasília! Preservemos seus elementos arquitetônicos! *Esta nota foi elaborada à partir da denúncia do estudante de arquitetura e urbanismo Luiz Lopes, com sua contribuição. Abaixos, fotos do processo de descaracterização da tesourinha da Asa Sul
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As entidades abaixo subscritas, organizadas no Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro, reiteram a denúncia de desmonte do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em curso desde 2016 e agravado por novas nomeações de pessoas desqualificadas para os principais cargos diretivos das suas superintendências regionais. O IPHAN é uma das mais antigas e reconhecidas instituições voltadas à preservação do patrimônio cultural no mundo. Na condição de autarquia federal presta, há mais de 82 anos, importantes serviços à sociedade brasileira. Por meio de suas representações regionais, cujos cargos de chefia, ao longo da história, foram sempre ocupados por pessoas com a devida aptidão técnica, o IPHAN atua com segurança e firmeza. Portanto, a credibilidade das práticas e decisões do IPHAN é fundamentada na sua histórica e inegável competência na preservação e conservação do patrimônio cultural de nosso país. De acordo com o que vem sendo divulgado na mídia e nas redes sociais, na última semana foram nomeadas para cargos de chefia (Direção e Assessoramento Superior 3) nas Superintendências do Iphan nos estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio de Janeiro pessoas sem a qualificação profissional mínima, ferindo direta e frontalmente as disposições do Decreto n° 9.727/2019, que dispõe sobre os critérios e o perfil profissional requeridos para a ocupação de cargos desta natureza. De acordo com esta norma, dentre outras qualificações, o postulante deve possuir título de especialista, mestre ou doutor em área correlata às funções que deverão ser exercidas ou comprovar experiência mínima de dois anos nesta área ou, ainda, de um ano em função pública de confiança. Estas nomeações seguem o mesmo critério, de caráter eminentemente político e não técnico, daquelas realizadas em 2019 e já denunciadas por este Fórum. Para o cargo de Superintendente do IPHAN no Estado da Paraíba foi nomeado um arquiteto e urbanista graduado há apenas três anos, enquanto para o cargo de chefe da divisão administrativa da mesma superintendência foi nomeado um “blogueiro” e pastor; ambos sem qualquer experiência profissional prévia na área. Para a coordenação técnica da Superintendência do IPHAN no Rio de Janeiro e para a coordenação administrativa da Superintendência do IPHAN em Minas Gerais, foram nomeados “blogueiros” sem qualquer experiência prévia na área ou no serviço público em geral. O Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro, instituído em outubro de 2019 como uma resposta a tais ataques, alerta para os riscos que essas nomeações representam para a adequada atuação destas superintendências e para a preservação do patrimônio cultural brasileiro. Deve-se destacar ainda que duas das três superintendências citadas abrigam bens inscritos na lista do Patrimônio Mundial da Unesco, de cuja convenção o Brasil é signatário, comprometendo-se, junto à comunidade internacional, a zelar pela preservação destes bens. Proteger o Iphan é preservar nossa memória coletiva. Brasil, 20 de abril de 2020. Assinam: ABA – Associação Brasileira de Antropologia ABAP – Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas ABEA – Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo ABGC – Associação Brasileira de Gestão Cultural ANPUH – Associação Nacional de História Anparq – Assoc. Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Aneac – Assoc. Nacional dos Engenheiros e Arquitetos da Caixa Econômica Federal ANTECIPA – Assoc. Nacional de Pesquisa em Tecnologia e Ciência do Patrimônio Docomomo Brasil – Seção Brasileira do Comitê Internacional para a Documentação e Conservação de Edifícios, Sítios e Conjuntos do Movimento Moderno FeNEA – Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo FNA – Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas IAB – Instituto de Arquitetos do Brasil ICOM-BR – Conselho Internacional de Museus – Brasil Icomos Brasil – Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios
As entidades abaixo subscritas manifestam o repúdio das categorias que representam aos ataques promovidos pela Administração Federal ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com a substituição sumária de seus superintendentes regionais por agentes públicos sem competência, experiência do Patrimônio Cultural brasileiro. O Iphan tem sido alvo de ataques persistentes perpetrados por grupos econômicos que buscam usar a dilapidação sistemática do Patrimônio Nacional como alavanca para o interesse de poucos. No golpe de Estado de 2016, cujas consequências deletérias à democracia brasileira são evidentes até hoje, tentou-se de modo autocrático e arbitrário extinguir por decreto tanto o Ministério da Cultura quanto o próprio Instituto – responsável pela preservação da identidade cultural de nosso país há mais de 80 anos. Na ocasião, organizações populares se levantaram em atos, ocupações, mobilizações de luta contra tal investida, logrando revertê-la e assegurar a continuidade do Iphan. O atual governo, aprofundando de sua agenda obscurantista, também ataca a cultura popular, o Patrimônio Nacional, o Iphan. Dessa vez a investida é velada, por meio da nomeação de pessoas sem formação ou experiência em atividades correlatas ao Patrimônio Cultural. Busca-se, com isso, desmontar o Instituto por inércia e incompetência, extinguindo as políticas de preservação construídas ao longo de décadas, subordinando o licenciamento de empreendimentos a interesses, no mínimo, não esclarecidos. Tal tática é parte não apenas do ataque ao Iphan, mas de um ataque generalizado também ao o funcionalismo público federal de conjunto, ameaçado em todos os sentidos por grupos econômicos interessados no desmonte do Estado brasileiro. A ofensiva contra os servidores públicos, e contra a estrutura do serviço público, é também uma investida direta contra as políticas públicas por eles empreendidas. Por isso, essa política destrutiva é também um ataque contra ao brasileiro, que sofrerá com as consequências do apagamento de sua memória e da degradação do ambiente urbano afeto ao Patrimônio Cultural. Especificamente, no caso de Brasília, se assistirá a uma rápida dilapidação dos bens patrimoniais sob tutela do Instituto: os conjuntos urbanos, os edifícios, as práticas e saberes. O próprio Plano Piloto, listado como patrimônio da Humanidade desde 1987, será presa fácil dos grupos que buscam subordinar nossa Cultura à exclusiva manutenção de seus privilégios econômicos. Não cabe, portanto, esperar qualquer recuo espontâneo desses grupos que hoje se apoderam de nossas instituições de modo espúrio. Convocamos todos os arquitetos e urbanistas, servidores públicos, organizações e lideranças populares à mobilização imediata em defesa do Iphan, não apenas no Distrito Federal mas também em todo o País, contra a nomeação arbitrária para importantes cargos de definição de políticas de preservação de nosso país, pela valorização das carreiras de servidores afeitas à preservação de nosso patrimônio cultural. Brasília, 20 de setembro de 2019. ArquitetosDF Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas do Distrito Federal IAB-DF Instituto dos Arquitetos do Brasil – Departamento do Distrito Federal Sindsep-DF Sindicato dos Servidores Públicos Federais no DF Abap-DF Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas - Núcleo Distrito Federal Icomos-DF Conselho Internacional de Monumentos e Sítios – DF Urbanistas por Brasília Fenea-Centro Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura - Regional Centro detalhe de desenho de José Octávio Cavalcante
Depois de grande sucesso de crítica e público em Belo Horizonte (cerca de 50 mil visitantes) exposição que apresenta trabalhos de quatro artistas plásticos sobre cinco das mais importantes metrópoles brasileiras chega à Galeria Mário de Andrade no IPHAN em Brasília Quatro talentosos artistas plásticos com técnicas e estilos diversos - José Octavio Cavalcanti (desenho), Júlia Bianchi (aquarela), Roberto Marques (colagem) e Altino Caldeira (acrílica) - criaram 61 obras retratando paisagens e pontos significativos que melhor caracterizam cinco das mais importantes cidades brasileiras: Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. O resultado desse coletivo artístico o público poderá conferir na exposição “Olhares Múltiplos sobre cinco cidades” com abertura no próximo dia 18 de julho (para convidados), ficando em cartaz no período de 21 de julho a 22 de setembro no IPHAN, na Galeria Mário de Andrade, em Brasília. Para cada cidade foi confeccionado um texto histórico, de autoria de Leonardo José Magalhães Gomes, apresentando as suas principais características históricas e culturais, e para cada local ou monumento foi elaborado um verbete com dados históricos, estilístico ou autoral. Para a presidente do IPHAN, Jurema Machado, o uso de técnicas diversas – desenho, aquarela, acrílica e colagem – das mais tradicionais às mais contemporâneas, resulta em um todo instigante que fala de ordem e de caos, de permanência e transfiguração, de rupturas e retorno à paisagem natural, do instável e do instituído. “Poder mostrar esses trabalhos a partir do IPHAN é um estímulo ao compartilhamento da nossa reflexão cotidiana sobre a permanência dos valores das cidades, sobre aquilo que, entre mudanças contínuas, buscamos como essência inalterável”, frisou. Altino Caldeira produziu quinze telas em formato grande em que afirma o aspecto lúdico e acentua detalhes inesperados da paisagem urbana pelos jogos de cores muito vivas e formas recriadas, que sugerem um universo inusitado, discernido no estereotipado emaranhado urbano pela visão especial do artista. Já o traço de José Octavio Cavalcanti se distingue pela precisão, minúcia epoiesis características, frutos de uma observação criativa que integra a capacidade de apreensão do universo urbano à chama da fantasia e da emoção. As aquarelas de Júlia Bianchi retratam tanto paisagens urbanas amplas como edificações específicas e pequenos detalhes dos locais visitados, comprovando, por sua beleza e propriedade no tratamento dos motivos, a criatividade e versatilidade da artista e o domínio do meio de expressão por ela escolhido. Por outro lado, Roberto Marques define sua técnica de colagem como um desenho com tesoura, ou seja: primeiro, ele concebe as imagens no papel para depois as recortar, usando tesouras ou, conforme a necessidade de precisão, bisturis cirúrgicos. Em seguida, elas são coladas e passam, assim, a compor os objetos, cenários, paisagens e personagens desejados. A exposição é um deleite para os amantes das artes plásticas, sobretudo pela diversidade de técnicas utilizadas e pela beleza das obras. O público leigo, contudo, ficará igualmente encantado ao ver retratado monumentos e paisagens bem conhecidos das cinco cidades. Aliás, como afirma a produtora executiva da mostra Andréa Matos, “Olhares Múltiplos sobre cinco cidades pretende divulgar as características culturais, arquitetônicas e históricas dessas cidades, buscando, principalmente, estimular o sentimento de pertencimento dos brasileiros por suas próprias cidades e o conhecimento das outras por meio de belíssimas obras de arte”. O designer Flávio Vignoli assina a museografia da exposição, que é fruto de projeto viabilizado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura, com patrocínio da Cemig e Alumar, apoio do IPHAN e realização da Via Social Projetos Culturais e Sociais. Serviço: O quê: Exposição Olhares Múltiplos sobre cinco cidades Quem: Altino Barbosa, José Octavio Cavalcanti, Júlia Bianchi e Roberto Marques Onde: IPHAN – Galeria Mário de Andrade – Quadra 713/913 Sul – Lote “D” – Térreo – Tel. (61) 2024-5453 Quando: Abertura para convidados dia 18 de julho e para o público em geral no período de 21 de julho a 22 de setembro, de segunda a sexta-feira, de 10 às 19 horas. Quanto: Entrada franca Assessoria de Imprensa: Henrique Godoy – (31) 3342-1692 / (31)8844-8986 ©Joana França Programa de 3 blocos da TV Senado sobre os bens tombados pelo IPHAN no Brasil, com depoimentos do Presidente do IAB-DF, Thiago Teixeira de Andrade, o professor da UnB, José Carlos Coutinho, e da Presidenta do IPHAN, Jurema de Sousa Machado. "Um panorama do acervo precioso tombado nas cinco regiões do país. São mais de 45 mil imóveis tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – o Iphan. Destaque para a cidade de Goiás, exemplo de tombamento de patrimônio colonial e de Brasília, a capital exemplo de modernidade. O Repórter Senado discute ainda o desafio maior de preservar tantos bens." Assista os três blocos do programa clicando aqui. |
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