O IAB/DF, cumprindo seu papel histórico de atuação no debate político e como instituição comprometida com a sociedade e com a cidade, reafirma seu compromisso com a defesa intransigente do direito à cidade. Essa defesa não pode, jamais, prescindir da compreensão de que a cidade, além de palco de conflitos permanentes, é um espaço que pertence a toda sociedade e é construído coletivamente a cada dia. Nesse sentido, consideramos essencial a luta pela inclusão de milhares de cidadãos que, por suas condições econômicas e sociais, se encontram alijados de direitos fundamentais relacionados ao usufruto de tudo o que a cidade oferece. O combate às desigualdades sociais materializadas no acesso desigual aos serviços públicos, à infraestrutura urbana, ao meio ambiente, ao patrimônio cultural e às possibilidades de trabalho é o ponto central de nossa pauta e de nossa atuação, que se torna especialmente necessária frente às claras tendências de retrocesso em conquistas políticas e sociais arduamente construídas. Enquanto capital moderna e patrimônio da humanidade, Brasília guarda especificidades em seu processo de urbanização, além de enfrentar dilemas e desafios comuns a outras grandes cidades brasileiras e latino-americanas. Seu acelerado processo de ocupação implicou, desde sua gênese, em uma organização espacialmente espraiada, mas com alto grau de concentração de serviços e empregos. Se por um lado, essa forma de organização espacial impõe pesados ônus ao deslocamento da população, por outro lado, apresenta oportunidades importantes de articulação com a paisagem natural e rural e de oferta de qualidade de vida singulares. No entanto, essas oportunidades somente se realizarão na medida em que se imprimam esforços para a contínua descentralização de oportunidades de emprego e renda, e a distribuição equitativa dos serviços de educação, saúde, segurança pública, cultura e lazer, cujo arranjo permanece profundamente desigual, tanto em oferta quanto em qualidade de serviços. Paralelamente, a melhoria dos serviços de transporte e da mobilidade urbana se colocam como imperativos para o aumento da acessibilidade e da integração do vasto território urbanizado do DF. Os desafios da descentralização e da democratização do acesso à cidade, em seu sentido mais amplo, permanecem como questões centrais para a política urbana de Brasília. Para além dos limites territoriais do Distrito Federal, Brasília cumpriu seu papel de dinamização econômica, social, cultural e urbana do interior do país, contribuindo para a ampliação e consolidação de uma forte rede urbana e econômica, uma demanda histórica do debate político brasileiro. Hoje, Brasília é o centro de uma importante área metropolitana: a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal (RIDE-DF), polarizando 33 municípios. Desses, pelo menos 12 se relacionam com o DF por dinâmicas cotidianas relacionadas à oferta de emprego, saúde e educação, dando à Brasília uma inserção metropolitana que não pode deixar de ser reconhecida no âmbito de uma política urbana democrática. Em seu papel de instituição crítica e independente, cabe ao IAB se posicionar ao lado das demandas sociais por uma cidade mais justa e inclusiva, utilizando o prestígio dessa instituição centenária para pressionar o Estado, a sociedade e a comunidade política no sentido do reconhecimento de direitos e da promoção de justiça social e espacial, sem, no entanto, deixar de reconhecer os eventuais avanços alcançados pelos mais diversos governos na realização dessa agenda de direitos, quando de fato existirem. Imbuídos desse espírito, apresentamos esta carta-síntese para uma Política Urbana democrática, redistributiva e inclusiva, desenvolvida coletivamente, no âmbito da Comissão de Políticas Urbanas do IAB/DF, a partir de reuniões ocorridas ao longo de 2018, quando foram propostas e debatidas as questões aqui elencadas. Este documento recepciona e particulariza os princípios do “Manifesto dos Arquitetos e Urbanistas do Brasil em Defesa do Planejamento Urbano Solidário e Inclusivo: Nossas Cidades Pedem Socorro!”, elaborado pelo IAB-Direção Nacional em parceira com o CAU/-BR como resultado do Seminário Nacional de Política Urbana: por cidades humanas, justas e sustentáveis, ocorrido em julho de 2018, em São Paulo. Cabe também ressaltar que, dando continuidade ao processo histórico da atuação do IAB/DF, este documento é mais um desdobramento da Carta elaborada pela Comissão de Políticas Urbanas do IAB/DF em 2014, resgatando e reforçando os princípios então elencados, em esforço contínuo para o aprofundamento do debate da agenda urbana no DF. As propostas se organizam em seis grandes eixos: 1) Políticas territoriais e metropolização; 2) Acesso à moradia; 3) Mobilidade urbana, uso do solo e espaço público; 4) Meio ambiente, urbanização e paisagem; 5) Gestão democrática do território e participação social e 6) Patrimônio cultural. EIXO 01 . POLÍTICAS TERRITORIAIS E METROPOLIZAÇÃO A cidade é uma só: combate à segregação territorial
- Incluir a dimensão metropolitana na Revisão do PDOT; - redefinir planos setoriais (transporte, habitação) a partir da lógica territorial integrada e intersetorial; - criar escala intermediária de projetos urbanos lógica territorial no âmbito de unidades de planejamento.
EIXO 02 . ACESSO À MORADIA Acesso à moradia digna e adequada
- oferta habitacional em áreas dotadas de infraestrutura urbana e com acessibilidade ao transporte público;
- melhoria habitacional de unidades unifamiliares: pública, privada ou por autoconstrução assistida; e - reforma e requalificação de edificações (mudança de uso), retrofit.
EIXO 03 . MOBILIDADE URBANA, USO DO SOLO E ESPAÇO PÚBLICO Mobilidade para as pessoas e não para veículos
- Renovação completa da frota de ônibus; - Diversificação das linhas de ônibus, incluindo transporte de vizinhança e melhorando a oferta de linhas entre RAs; e
EIXO 04 . MEIO AMBIENTE, URBANIZAÇÃO E PAISAGEM Planejar a cidade a partir da compreensão ecológica da paisagem
EIXO 05 . GESTÃO DEMOCRÁTICA DO TERRITÓRIO E PARTICIPAÇÃO SOCIAL Gestão democrática do território com ampla participação social
EIXO 06 . PATRIMÔNIO CULTURAL Direito à memória: superar conflitos para preservar
Sendo o patrimônio uma representação de identidades, ele enseja discussões múltiplas que implicam o debate na esfera política, muitas vezes implicando campos de disputa e confrontos. No caso particular do Distrito Federal estas disputas são claras e se expressam na realidade do território – opondo Plano Piloto e suas regiões Administrativas, as Cidades Satélites. Embora o conceito de patrimônio cultural tenha caminhado positivamente no sentido de se tornar mais democrático e inclusivo, as políticas de proteção ainda contam muito pouco com a participação da população em geral. Além dessa posição conceitual e política, um plano de preservação para Brasília deve resultar de pactuação/acordo entre todas as instituições responsáveis por preservar e fazer preservar os bens culturais, além de contar com as contribuições e interações com a sociedade civil. Sem estes arranjos nas várias esferas da administração esse plano corre o risco de não ser realizado.
- transporte público; - segurança; - redes de água, esgoto, força e luz, coleta de lixo, águas pluviais; - programação visual, endereçamento e comunicação, dentre outros. 3. Plano de Preservação e projetos urbanos de requalificação
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Outubro 2024
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