Dia 25 de Julho. Viver o Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha é relembrar a grande questão social brasileira a ser enfrentada.
São elas as principais impactadas pelas políticas de austeridade, pela ausência de políticas públicas e pelos descompassos da precarização urbana no país. O enfrentamento diário ao machismo e racismo torna o espaço urbano ainda mais desafiador, e nos faz questionar: em que momento nossas cidades se atentarão às políticas de enfrentamento, tanto para a violência racial quanto de gênero? Essa violência contra a mulher racializada no Brasil, assim como nos países advindos de processos históricos de colonização, corroboram para uma visão hiperssexualizada, de silenciamento das suas histórias e de subalternização deste corpo feminino em evidência (GONZALEZ, 1992). No Brasil, elas são maioria, representando quase 23,4% da população brasileira. No DF, também se apresentam como maior parcela da população, chegando a quase 28,7% dos habitantes. (PDAD, 2021), Em Brasília (IPE DF, 2021), mulheres negras são maioria nos deslocamentos, representando 35,5% do andar a pé no DF. E que cidade se apresenta durante esses percursos? Como estão os espaços públicos, a infraestrutura e uma perspectiva de morar dignamente nos núcleos urbanos, periféricos e centrais? Veja também a coluna do IAB no Jornal Brasil de Fato DF: Brasília, por que ignora sua segregação escancarada? Pensando na mulher negra como maior parte do contingente feminino racializado no espaço, o Brasil tem um contraste agravante entre as condições sociais de mulheres negras e mulheres brancas no país. Em 2023, a violência contra mulheres chegou a números alarmantes, onde a cada 11 vítimas de feminicídio, 7 são negras, segundo os dados da Anistia Internacional (2023). Quando observamos as condições socioeconômicas, as reflexões de desigualdade e da feminização da pobreza também nos mostram um longo caminho a se enfrentar: mulheres negras têm uma menor participação em trabalhos com carteira assinada e os menores índices de ocupação em cargos de chefia (IBGE, 2022). Segundo os dados do 1° diagnóstico de Gênero elaborado em 2019 pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/BR), as mulheres negras arquitetas representam a maior taxa de desemprego na carreira (44%), o que não provoca espanto ao analisarmos os dados sociais de nossa população. Inclusive, a invisibilidade de mulheres indígenas nas estatísticas também demonstra a incipiência de dados sobre as suas formas de vida, e se reflete também como um dado, pensando a ausência de informações das suas atuações, tanto no nosso campo de trabalho quanto como precursoras da vida, dentro e fora de nossas cidades. Uma cidade universal, feita para todas, todes e todos, não deveria significar a sua homogeneização. Nos aspectos do planejamento urbano, a condição feminina, afrolatinoamericana, índigena e caribenha, ainda é conhecida comumente nas condições da precarização. Porém, suas vivências, histórias e existências perpassam essas condições e são a chave da libertação de uma representação redutível, que não condicione-as à mera imagem de violência, subserviência ou pobreza. Além da representação desses dados, uma descentralização do planejamento urbano deve ser o foco para os próximos anos, condizente às demandas na arquitetura e na cidade. É crucial o comprometimento de se realizar novas abordagens da teoria e prática, onde o campo da arquitetura e do urbanismo enfrente os antecedentes colonizadores (ainda presentes) e aborde a visão das mulheres racializadas, negras, indígenas e afrodiaspóricas como dimensões analíticas, referências no espaço. Texto: Raquel Freire Revisão: Luiza Dias Coelho Peças de comunicação: Cecília Almeida Comissão Extraordinária de equidade de gênero e raça Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento do Distrito Federal Referências: GONZALEZ, Lélia. Por uma categoria político-cultural de Amefricanidade. 1992. Rio de Janeiro. Instituto de Pesquisa Econômica Distrito Federal (IPE DF). Retratos Sociais 2021 de Pessoas Negras. Brasília: 2021. Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio (PDAD). Brasília: CODEPLAN, 2021.
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