por Gilson Paranhos
MEMÓRIAS Era início de 1977, em frente à secretaria do Departamento de Arquitetura na FAU-UnB, sem saber bem do que se tratava, preenchendo um formulário que solicitava a aprovação da diretoria para me associar ao IAB. Surge então um professor, que eu não conhecia pois ele estava retornando ao país e à universidade, e se dispõe a assinar minha apresentação. Naquele momento, o Professor Galbinsky me diz que a entidade era importante porque lá você conhece bons profissionais e discute temas interessantes. Procuro, inicialmente participar de alguma maneira, mas não tinha formação suficiente para acompanhar aqueles debates. O IAB-DF, em função da realidade política da época e por sua posição geográfica, sempre teve a tendência em discutir a arquitetura com um elevado peso político. Em novembro de 1979, entretanto, o tema de um Congresso Brasileiro realizado em Brasília, tentava buscar um foco maior na arquitetura: “Arquitetura Brasileira pós Brasília”. Participei intensamente desse Congresso onde conheci melhor Graeff, Lelé e muitos outros profissionais brasileiros. A partir daí me aproximei definitivamente do IAB-DF. Recordo bem dos inúmeros cursos técnicos oferecidos pelo IAB-DF, especialmente Orlando Cariello estava à frente do instituto. Também me recordo da constante participação de Moraes de Castro, Aleixo, Bassul, Coutinho, Erico, Torelly, Jacaré, e mais próximo de nossa “entrada”, Helena Zanella. Nessa época, acompanhava mais à distância, tanto a sede do IAB-DF como a do Sindicato de Arquitetos eram na SGAS 603. Presenciei ainda em silêncio discussões que se concretizavam na mesa do departamento sobre a Reforma Urbana, Estatuto da Cidade e diversos outros documentos sobre a Política Urbana que vieram a integrar o pensamento de nossa ultima Constituição Federal. Essencial nominar nessa época, para mim, aquele velhinho simpático, agradável, barulhento e feliz, Pompeu de Souza. Um grupo de arquitetos “mais jovens” na época, considerado “menos político” do qual eu fazia parte, entendeu que precisávamos trocar conhecimentos em arquitetura de verdade e que no IAB-DF não existia espaço. Assim, reuníamo-nos em nossas casas para falar de arquitetura, projetos e obras em Brasília, no Brasil e no exterior através de informações trazidas especialmente por Elvin Dubugras. Passamos a ter realmente uma resistência ao IAB quando soubemos que iria ter eleição próxima e entendemos que Sérgio Parada que tinha tido experiência como diretor no IAB Paraná deveria ser nosso candidato `a presidência. Vencemos a eleição no segundo turno depois de um empate no primeiro que se tornou histórico para o departamento. Fomos vice-presidente juntamente com Otto Ribas nessa gestão. Foi uma gestão difícil, de mudanças, onde entramos no IAB com um chaveiro para abrir as portas e nos defendendo de ações judiciais. No final da gestão propusemos o nome de Haroldo Pinheiro, nosso colega de UnB, para encabeçar a nova chapa. No final de 1999, no apartamento de meu ex-professor Aleixo, com a presença de Lelé, Elvin, Haroldo, Erico e diversos outros importantes colegas, numa reunião sobre novos caminhos, os amigos decidem que eu devia liderar a nova chapa para a gestão 2000/2001. Recordo-me com carinho de Milton (arquiteto Milton Ramos) chegando cedo no dia da eleição, dizendo que queria ser o primeiro a votar porque tinha que trabalhar. A partir daí me envolvi diretamente com o IAB-DF, com as lutas nacionais, estreitei os laços de amizade no COSU, e até hoje lutamos nas trincheiras defendendo os temas dos arquitetos brasileiros. REFLEXÕES Fantásticas foram as necessárias atitudes dos fundadores e de nossos colegas que ao longo desses 60 anos conduziram o IAB-DF, e desses 100 anos o IAB-DN. Hoje acredito que a entidade deve ser repensada e atualizada. Acredito que não devemos e não podemos continuar com IABs estanques estaduais. O IAB é uma entidade única. Toda a administração do IAB nos diversos estados deve ser única, liberando o tempo dos profissionais para atuarem com mais determinação, principalmente nas áreas profissionais, culturais e política, na construção das edificações e de nossas cidades em todos os municípios brasileiros. A saúde, o direito e algumas outras áreas trabalham nos municípios junto às pessoas. Não devemos ser diferentes. Essa unificação administrativa não tira dos estados o poder e a determinação política regional, pelo contrario, a reforça. O IAB não pode continuar sendo privilégio de uma dezena de departamentos, atuando somente nas capitais. O IAB deve ser municipalizado e toda sua estrutura digitalmente atualizada. Devemos ser sócios do IAB e não do IAB-DF, IAB-RS, IAB-SP,IAB-CE, IAB-BA, etc. FUTUROS POSSÍVEIS A partir da municipalização do IAB, devemos concentrar nossos esforços na defesa de nossas bandeiras que atingem a maioria da população como : - A defesa da democracia - Assistência Técnica à Habitação de Interesse Social. (ATHIS) - A presença de no mínimo dois arquitetos em cada prefeitura. - A contratação através de Concursos Públicos de Projetos - A remuneração justa e digna através da Tabela Única de Honorários. Com essas pautas e com um controle administrativo único em rede, enxuto e atualizado, continuaremos a assumir as rédeas da Arquitetura e Urbanismo em nosso país e determinar seus caminhos. O CAU atuará em seu objetivo: Fiscalização em defesa da sociedade. A FNA atuará em seu objetivo: Defesa dos direitos do Arquiteto Urbanista. Gilson Paranhos é arquiteto e urbanista formado pela Universidade de Brasília. Trabalhou com importantes arquitetos como Lelé e Milton Ramos. Presidiu o IAB DF no biênio 2000/2001 e o IAB Nacional de 2010 à 2012. Esteve à frente da CODHAB-DF na gestão do Governador Rodrigo Rollemberg, onde implantou um exitoso programa de Assistência Técnica Pública e Gratuita em Arquitetura e Urbanismo às Famílias de Baixa Renda e promoveu diversos concursos públicos de projeto para as Áreas de Regularização de Interesse Social da Metrópole Brasiliense. [ ajude-nos a contar a história do IAB-DF envie seu depoimento [email protected] e colabore com o Projeto IAB 60 anos de Brasília, que busca resgatar e registrar as memórias, debates, afetos e lutas de nossa entidade e de quem fez parte desses sessenta anos do IAB DF. ]
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Junho 2020
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