Entrevista com Niemeyer Em dezembro deste ano, Oscar Niemeyer surpreende a todos ao completar um século de vida e continuar com energia e força para expandir sua criatividade em projetos que são obras de arte da arquitetura contemporânea, exposta em de cidades espalhadas pelo mundo inteiro.
Pessoa extraordinária como arquiteto, artista, escritor e, ultimamente até escultor, Niemeyer sempre procurou inovar. Ao escolher a arquitetura, buscou rumos diferentes desde quando ainda cursava o 3º ano da Escola Nacional de Belas Artes. Ao invés de procurar estágios em firmas construtoras, que garantiam um salário razoável e apesar da situação financeira difícil, preferiu trabalhar gratuitamente no escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão, onde sabia que poderia encontrar o caminho da “boa arquitetura”, como narra em seu livro de memória “Minha Arquitetura -1937-2005, onde conta e descreve situações muito interessantes de sua vida profissional.
Com uma agenda lotada de reuniões de trabalho e de compromissos em homenagem aos seus 100 anos de vida, Niemeyer respondeu algumas perguntas que o IAB-DF enviou para a primeira entrevista em seu novo site.
IAB/DF – Sua arquitetura está presente em diversos países do mundo em edificações que são verdadeiros monumentos de extraordinária beleza e de uma simplicidade esplêndida. O que o senhor diria aos jovens estudantes de arquitetura, que estão arriscando se formar para se dedicar à construção mais edificações nas cidades já tão imensas e difíceis de viver e administrar?
Niemeyer – O que eu aconselho a todos os estudantes é não se limitarem aos assuntos da profissão. O importante é ler, conhecer os problemas da vida, deste mundo injusto que os espera e que eles deverão enfrentar.
IAB/DF – Há ou não um imenso desequilíbrio no crescimento das cidades e na redução drástica da população rural no Brasil? De que forma a arquitetura contribuiu para isso?
Niemeyer – Sim. Em geral as cidades se desmerecem quando não é fixado um limite de densidade demográfica. As cidades devem se multiplicar e não crescer desordenadamente, sem controle, como não raro acontece no país. Quando nelas falta uma unidade arquitetural e a relação entre cheios e vazios é comprometida, a arquitetura se degrada.
IAB/DF – Antes de mergulhar na arquitetura e se tornar um mestre para tantas gerações, o senhor percebeu o mundo por meio do desenho. Foi o gesto simples de criar um desenho que o levou à arquitetura e também de encontro ao genial urbanista Lucio Costa?
Niemeyer – Não. O desenho me levou à arquitetura, mas na realidade quando faço um projeto é pensando no problema arquitetural, imaginando a obra já construída, que o elaboro. A arquitetura está na cabeça.
IAB/DF – Ter participado da construção da nova capital representa um marco em sua trajetória de vida como arquiteto. Como o senhor olha para essa epopéia hoje?
Niemeyer – Quando JK me pediu que projetasse Pampulha, ao terminar a conversa me falou: “Oscar, preciso do projeto do cassino para amanhã.” Eu era jovem e o atendi. Essa mesma pressa nos perseguiu durante toda a construção da nova capital. A mesma correria, as mesmas angústias a mesma preocupação em respeitar os prazos muito exíguos.
IAB/DF – Ainda hoje, o senhor colabora com a construção da capital. O que ainda falta para completá-la?
Niemeyer – Não sei. Mas uma coisa que me tranqüiliza é, limitando o meu trabalho à parte criativa do projeto, confiar a escritórios diversos, a amigos, o desenvolvimento dos meus trabalhos e dividir com eles os meus honorários.
IAB/DF – No caso de Brasília e outras grandes cidades, o senhor não acha que deveria haver mais planejamento para a conservação e manutenção desses centros urbanos, que hoje crescem além da capacidade de se manter saudáveis e proporcionarem uma qualidade de vida razoável para as populações?
Niemeyer – É claro… Essa falta de atenção é deplorável. Como arquiteto eu protesto também quando um projeto meu é desrespeitado. O que infelizmente não é raro. Gostaria, uma vez terminada a construção, de ouvir do responsável por sua execução o que me disse o secretário–geral do Partido Comunista Francês, Ducrot: “Oscar, a sede do PCF está pronta, bonita. Gostaria, se você me permitisse, de levar para o meu gabinete uma mesa antiga que me acompanha há muitos anos.”
IAB/DF – O senhor pode deixar uma mensagem para os arquitetos associados do IAB-DF?
Niemeyer- A vida é mais importante do que a arquitetura.