Após 50 anos do primeiro debate sobre os estudos dos problemas urbanos de Brasília (DF), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) sediará, entre os dias 6 e 8 de agosto, o II Seminário sobre os Estudos dos Problemas Urbanos de Brasília. O evento será realizado no auditório do Iphan Sede, na capital federal, e os interessados em participar das discussões devem realizar inscrição por meio de formulário eletrônico. As vagas são limitadas. Confira a programação do evento a seguir: O II Seminário sobre os Estudos dos Problemas Urbanos de Brasília contará com a presença de especialistas no assunto que vão discutir desde o direito à cidade para todas as pessoas, os desafios do planejamento e gestão urbana e territorial do Distrito Federal até como a capital deve enfrentar as mudanças climáticas. O evento é fruto de parceria entre Iphan, Andar a Pé, Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-DF), Universidade de Brasília (UnB), Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-DF), Ministério Público (MPDFT), Rede Urbanidade e Fórum de Defesa das Águas do Distrito Federal.
No primeiro seminário, realizado em 1974 no Senado Federal, os problemas da cidade foram debatidos com a ilustre presença do autor do Plano Piloto de Brasília, o urbanista Lucio Costa. Na ocasião, Lucio retornava à cidade depois da sua inauguração e discursou sobre “Considerações em torno do Plano Piloto de Brasília”, título de sua palestra, que contribuiu para criar condições para que essa área alcançasse sua plenitude e desenvolvimento. As contribuições dos arquitetos e urbanistas, engenheiros e parlamentares da época foram registradas em uma publicação que reúne estudos e debates sobre a urbanidade de Brasília.
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Contribuição do IAB DF aos debates dos eventos sobre o QUITANDINHA +60 No ano em que se comemoram os 60 anos do Seminário de Habitação e Reforma Urbana (s.HRu), o Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento do Distrito Federal (IAB.DF) oferece aos participantes do evento este registro dos debates ocorridos em 1963. O evento idealizado pelo IAB e organizado conjuntamente com o IPASE (Instituto de Previdência e Aposentadoria dos Servidores do Estado) ocorreu em três cidades, na sede do IAB em São Paulo, no Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, e, em seguida, no Hotel Quitandinha em Petrópolis, o que fez esse importante encontro ficar conhecido como Seminário de Quitandinha. O material que ora apresentamos foi publicado na Edição de Nº 15 da ARQUITETURA, “órgão oficial do Instituto de Arquitetos do Brasil”, de setembro de 1963. ARQUITETURA era a revista cultural do IAB que circulou nacionalmente de agosto de 1961 a dezembro de 1968, que não apenas publicava projetos e obras arquitetônicas e urbanísticas relevantes do Brasil e do Mundo, como também era espaço de promoção do design moderno, das artes visuais, cinema e literatura, além de teses e conceitos sobre os principais problemas e soluções para os espaços construídos. Lançada em um momento de enorme esperança para brasileiros e brasileiras, a revista saiu de circulação quando a Ditadura Militar mostrou seu lado mais repressor. Anteriormente à publicação do “Documento Final do Seminário”, houve um enorme esforço do IAB, por meio de sua revista, em fazer circular opiniões sobre os problemas mais urgentes das cidades brasileiras. Temas como a importância dos planos diretores, a relação de saúde com habitação adequada e o problema do déficit quantitativo e qualitativo habitacional no Brasil estamparam as páginas de diversas edições da publicação, fomentando um pensamento crítico e colocando o tema na ordem do dia, ao menos entre as/os profissionais de arquitetura e urbanismo. O propósito do s.HRu foi elaborar “um programa de atividades com o objetivo de conseguir do Governo as medidas indispensáveis para enfrentar o problema da habitação e do planejamento dos aglomerados humanos brasileiros”, conforme artigo publicado na edição da ARQUITETURA, de junho de 1963, que ressaltava: “esta atividade do IAB tem sido traduzida pela ação junto ao Poder Público e pelo esclarecimento da população”, visando encontrar uma solução global para a questão dos “problemas de planejamento urbano e de habitação”. Por meio da republicação desses documentos históricos, pretendemos que, com um olhar atento à nossas conquistas do passado, frutos de enorme esforço coletivo, possamos novamente nos colocar como instrumentos de construção do futuro, de políticas públicas adequadas e baseadas em conhecimentos técnicos e participação social. Também almejamos formular soluções para os problemas que existiam em 1963 e que hoje estão ainda mais graves. Ressaltamos que a relevância do s.HRu e seu impacto nas políticas públicas e na transformação das condições de vida da população - apesar da ditadura que golpeou violentamente o sonho da moradia digna e da reforma urbana - só foi possível graças a um exaustivo trabalho coletivo de elaboração de propostas e da articulação com o poder público, que incluía a participação direta da Presidência da República, no governo João Goulart, no contexto das Reformas de Base. A partir do Seminário, os conceitos de reforma urbana e de moradia digna passaram a fazer parte do léxico de quem luta por cidades justas e pelo direito ao habitat adequado e, posteriormente, das políticas públicas. Neste momento de reconstrução do país e de suas instituições, o IAB.DF deseja a todas e todos um excelente Seminário. Que todos os coletivos, entidades, instituições de ensino e movimentos sociais aqui reunidos para discutir O Povo, Sua Casa, Sua Cidade, consigam não apenas aprofundar as análises sobre os problemas urbanos brasileiros, mas também propor soluções adequadas para enfrentar um mundo ainda mais desigual, violento e em acelerado colapso ambiental. Que as estratégias e propostas de 1963 nos inspirem! Um outro mundo é possível! Brasília, 21 de outubro de 2023. Luiz Eduardo Sarmento Presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil Departamento do DF Pronunciamento da professora doutora Sylvia Ficher
17 setembro 2023 " Gostaria inicialmente de agradecer Yukie Watanabe, coordenadora-geral de Patrimônio Histórico do Itamaraty pelo gentil convite. Considerando a razão de ser deste nosso encontro – uma reflexão sobre o valor histórico, artístico e cultural acrisolado na arquitetura cívica da Capital Federal, eu vou me permitir começar citando uma crônica da jornalista e amiga Conceição Freitas, do dia 21 de abril passado. Tem por título, Nem-Nem. Com a palavra, Conceição: Num encontro recente com alunos de ensino médio de escolas públicas fora do Plano, perguntei se alguém sabia quem era Lucio Costa. Ninguém. Em outro, dias depois, os adolescentes não se consideravam nem candangos nem brasilienses. A capital da utopia, para eles, é uma imagem monótona e repetitiva que rola no celular ou na TV. – Candango é quem é pobre. – Brasiliense é quem é rico. – Somos nem-nem. Fecha aspas... E eles estão certos, eles são nem-nem. Esses jovens vivem uma segregação não só espacial, mas também simbólica. Para eles, este patrimônio, este local em que nos encontramos, tão valorizado em nosso meio, na nossa bolha, não diz nada. Sequer o conhecem. Se já estiveram em alguma visita aqui no Itamaraty, talvez tenham gostado mesmo é do dia de folga das aulas. Estão alijados dos códigos que permitiriam uma leitura da experiência, que permitiriam dar outros significados à experiência. Falar em educação patrimonial como tarefa pedagógica sem a contrapartida de apresentar com objetividade qual o porquê da preservação de um bem, seja material, sejam imaterial, é insistir em lições abstratas sobre valores transcendentais. Eu estou convencida que só se protege aquilo que se conhece, aquilo sobre o qual se tem referências claras, concretas. Aquilo que se é capaz de decifrar os códigos, se é capaz de reconhecer. E, ao reconhecer, fazer-se proprietário também. Para, assim, superar o desnível que há entre o entendimento que se tem da importância do patrimônio entre os aqui presentes e entre o entendimento de grande parte das pessoas. Esse descompasso é geral, diria mesmo, universal, entre padrões de gosto, entre níveis de informação, entre experiências de vida, entre valores culturais. Vou me permitir também repetir algumas considerações que fiz em evento recente no IPHAN, denominado "Palácios de Brasília: Projeto e Destino". Afinal, as preocupações são semelhantes. Em 1978, tendo recém concluído um mestrado sobre patrimônio arquitetônico e urbano, participei de uma reunião da SBPC na cidade de Santos. Exatos quarenta anos depois, em 2018 participei de outra reunião, desta vez na Fundação Cultural de Curitiba. Infelizmente, a questão era a mesma: os desafios da preservação. E a minha resposta também foi a mesma: informação, informação, informação. Mas informação direta, sem notas de pé de página e sem bibliografia. Nada explica dizer-se que o Palácio do Itamaraty é uma obra-prima de Oscar Niemeyer, uma obra-prima da arquitetura brasileira, reconhecido internacionalmente por seu alto valor artístico. São palavras vazias... Informação deve ser através de publicações de divulgação, guias despretensiosos, histórias em quadrinho, vídeos curtos como o TikTok e todo o arsenal digital disponível para quem quiser se aprofundar naquilo que lhe interessar. É preciso ter aplicativos. Eu costumava dizer que se não está na internet, não existe. Hoje eu digo: se não tem aplicativo, não existe. Tem aplicativo para tudo, até para beber água! Ou para namorar, como na música do jovem Gabriel Diniz, mais um artista morto em um desses trágicos acidentes com jatinhos, "O nome dela é Jennifer, eu conheci ela no Tinder". Daí a importância de se associar aplicativos e roteiros. Porque roteiros são imprescindíveis, com mapas simplificados, percursos e muitas ilustrações comparativas. E ficam melhor ainda se traduzidos em aplicativos. De modo a auxiliar na visita a bens de uma mesma classe, que ajudem a observar, diferenciar e, assim, reconhecer o que há em comum entre esses bens. No caso de Curitiba, roteiros sobre a arquitetura de madeira, sobre a arquitetura eclética do café, a arquitetura art-nouveau da virada do século ou sobre a arquitetura art-deco da industrialização. No caso de Brasília, um roteiro das sedes de fazendas remanescentes, de suas áreas de preservação ambiental, outro das etapas de construção da metrópole, outro ainda de sua arquitetura monumental, e assim por diante. Insisto, reconhecer é indispensável para o passo seguinte: apropriação, sentir-se proprietário do bem. Reconhecimento e apropriação, ou seja, adesão afetiva, na feliz expressão de Graça Ramos no citado evento do IPHAN. Ou, para citar mais uma música, aquela do Peninha, de grande sucesso na nossa bolha quando gravada na voz de Caetano: "Quando a gente gosta é claro que a gente cuida..." O resto todos nós já sabemos muito bem, são as tarefas rotineiras dos preservacionistas: levantamentos cadastrais, documentação, conservação de arquivos, capacitação técnica, atribuição de valores, definição de prioridade, etc., etc., etc. E portas abertas para se conhecer um bem para além daquilo que é público, para se conhecer suas entranhas e mistérios. Vale sempre o prazer de visitar o proibido!! " Fala pronunciada no Palácio do Itamaraty de Brasília dia 17 de agosto de 2023 no seminário "Palácios de portas abertas: conhecer para proteger" cuja programação foi a seguinte: 10h00: Abertura Embaixador Denis Fontes de Souza Pinto. Secretário de Gestão Administrativa/MRE 10h10: Senhor Leandro Grass. Presidente do !PHAN 10h25: Professora Doutora Sylvia Ficher. Professera Emérita da FAU/UnB 10h40: Mesa redonda Moderação: Conselheira Yukie Watanabe, Coordenadora-geral de Patrimônio Histórico/MRE 10h45: Senhor Rogerio Carvalho, Diretor Curatorial dos Palácios Presidenciais 10h55: Senhor Marcelo Sa de Sousa, Diretor do Museu da Câmara dos Deputados 11h05: Senhora Maria Cristina Silva Monteiro, Coordenadora do Museu do Senado 11h15: Senhor Estêvão Waterloo, Secretario-geral da Presidência do Supremo Tribunal Federal e Senhora Daniela Daros, Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da lnformação/STF 11h25: Debate/perguntas e respostas |
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